Em dezembro do ano passado vieram à tona os ganhos inexplicáveis do ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel em consultorias que lhe asseguraram rendimentos espetaculares de R$ 2 milhões.
Amigo de Dilma, um dos poucos que ela, sem a tutela do ex Lula, indicou para o seu governo, Pimentel, ao contrário de seus pares flagrados em “malfeitos”, continua ministro e primeiro conselheiro. É irremovível.
Ao que parece, pelo critério da presidente incensada por sua intolerância à corrupção, a punição ao malfeito varia de acordo com os valores envolvidos. O pecado de Antonio Palocci, removido sem dó por motivo idêntico, foi de imperdoáveis R$ 20 milhões.
Quando as denúncias apareceram, Pimentel até tentou detalhar o trabalho que teria prestado em 2009 e 2010 para a construtora mineira Convap e para Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Poucos dias depois, representações da Fiemg no interior do Estado que teriam sido beneficiadas com as consultorias, negaram, com todas as letras, a prestação do serviço.
Até hoje, procura-se, incansavelmente, alguém, um único ser que tenha usufruído das consultorias do petista, justificando assim a generosa remuneração.
Na Convap não foi diferente. Menos de um ano depois de pagar a última parcela pela consultoria não prestada, a construtora, em consórcio com a Constran, foi escolhida pelo prefeito de Belo Horizonte, o aliado Márcio Lacerda (PSB), para tocar as obras viárias do sistema de BRT (Bus Rapid Transit) na Avenida Cristiano Machado, acesso ao aeroporto de Confins. Um contrato de R$ 36,3 milhões.
Nada sequer foi investigado. No Congresso, a blindagem ao ministro funcionou azeitada. As tentativas de ouvi-lo foram descartadas sem qualquer cerimônia. Pedido formal de esclarecimentos? Claro que não. CPI? Ora, nem pensar.
A Comissão de Ética da Presidência da República, à qual Dilma já demonstrou que pouco se lixa, até tenta. Pediu explicações a Pimentel há mais de mês. Foram insuficientes, dizem. Na última segunda-feira, 16, renovaram o pedido com mais 10 dias prazo para que ele explique o inexplicável.
Se as consultorias-fantasma já não assombravam, agora então Dilma e Pimentel respiram ainda mais aliviados. A presidente preferia, com razão, não ter de lidar com uma CPI que, ao bisbilhotar tramóias de um bicheiro, pode esbarrar e, provavelmente, o fará, em gente do seu governo. Mas já pode enxergar nela algumas vantagens.
A investigação não tem capacidade, ao contrário do que imaginava Lula, de colocar o mensalão em segundo plano. Mas, seguramente, deixará as denúncias contra Pimentel em quinto.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/4/2012.
Mary. Dois pesos, duas medidas. Aos amigos, tudo, aos nem tanto um bom pé na b… .