“Não pode ser um julgamento político. Se isso ocorrer, nós questionaremos, iremos para as ruas”.
A tal ponto chegou o rebaixamento dos costumes políticos neste Brasil contemporâneo, que o futuro presidente da Central Única dos Trabalhadores, o bancário Vagner Freitas, se sentiu no direito de lançar essa advertência pública dirigida a ninguém menos do que a Suprema Corte de Justiça do País.
Em países onde as instituições democráticas têm mais tradição e solidez, uma manifestação desse tipo provocaria algum tipo de escândalo público e uma reação firme das instituições que representam a sociedade civil.
É possível imaginar que o sindicalista tenha sido advertido por algum correligionário mais ilustrado de que estava ultrapassando os limites da petulância e em seguida buscou amenizar o seu discurso com a tentativa de aplicação de panos quentes: “Não temos dúvida nenhuma de que teremos um julgamento técnico”.
A tradução das ameaças do sindicalista é a mais clara possível: se o STF condenar os ditos mensaleiros, o julgamento terá sido político; se absolver, o julgamento terá sido técnico.
A definição dos critérios do que seja “político” ou “técnico” no caso, será de exclusiva lavra de quem formulou a engenhosa definição. O paradoxo é esse: para evitar aquilo que consideram o perigo de um pré-julgamento, os sindicalistas fazem o seu próprio pré-julgamento.
Mas o grave não está nas considerações político-partidárias feitas pela direção da CUT, mas nas ameaças nem um pouco veladas que elas contém: mobilizar a estrutura da central sindical mais poderosa do País como forma de pressionar a mais alta instância do Poder Judiciário.
E não se trata de defender interesses específicos de seus representados, ou alguma espécie de matéria ligada a questões trabalhistas e sindicais, mas de um tema de interesse específico de um partido politico.
As grandes centrais sindicais dos países da Europa nasceram normalmente ligadas a partidos políticos tradicionais em seus países, como social-democratas, socialistas, comunistas ou democrata-cristãos.
Suas ações normalmente expressam as linhas mestras da ideologia-matriz que inspira esses partidos.Mas as centrais sindicais agem como centrais sindicais e os partidos como partidos.
A CUT é um braço sindical do Partido dos Trabalhadores, o que é normal e lícito. Ao fazer ameaças ao STF, além de exercer um tipo de pressão incompatível com os fundamentos da democracia, extrapola os limites de sua área de atuação claramente definida no artigo 3º do seu estatuto:
“A CUT tem como objetivo fundamental representar sindicalmente e dirigir, numa perspectiva classista, a luta dos trabalhadores brasileiros da cidade e do campo, do setor público e privado, ativos e inativos na defesa de seus interesses imediatos e históricos”.
Não há o que explique onde está a compatibilidade entre a defesa dos acusados do mensalão e “a luta dos trabalhadores brasileiros da cidade e do campo”.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/7/2012.