Carlos Cachoeira, cidadão honesto e trabalhador

Se alguém disser a Carlos Cachoeira que é um bandido e deve ser preso, ele acha graça. Não é cinismo. Esse Carlos Cachoeira é pessoa de bem. Só tem o mesmo nome do outro, o poderoso bicheiro, cheio de tentáculos, investigado pela CPI do Congresso.

Carlos Cachoeira Ibanez é contador, casado, com filhos. Mora em Interlagos, na zona sul de São Paulo. Diz que procura manter o humor, porque as brincadeiras são inevitáveis. “Até minha professora de espanhol faz piada. Fica dizendo para eu desviar dinheiro para a conta dela.”

O que Carlos não gostaria mesmo nada é que o chamassem pelo diminutivo, como se faz com o bicheiro. “Graças a Deus não me chamam de Carlinhos.”

Estas poucas palavras foram tudo o que Carlos disse. Como outros Cachoeira procurados pelo DC, não quis saber de reportagem, muito menos com família, fotos. O propósito da pauta era mostrar como vivem os Cachoeira comuns, trabalhadores e honrados. Um contraponto a Carlinhos Cachoeira, o bicheiro. Mas a simples referência a este nome parece causar arrepios.

Um empresário do Cambuci enviou esta resposta: “Obrigado pelo contato, mas gostaríamos de ficar anônimos.” Um vereador de cidade do sul da Bahia, que criou página na internet sobre os Cachoeira, despistou o repórter por dois dias.

Em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, vive uma Cachoeira, empresária, que busca as origens de sua família. Ela informou que ainda não chegou a resultados. E sobre pedido de entrevista: “A respeito da pessoa que usa Cachoeira como apelido, lamento, mas pela repercussão do caso, qualquer exposição na mídia, mesmo para mostrar que não existe conexão com os verdadeiros Cachoeira, é uma ideia que não me agrada”.

Em São Paulo, Rodrigo Cachoeira, 22 anos, técnico em edificações, foi ao ponto: “Ter o nome exposto fica ruim para a família Cachoeira.” A exposição do nome no noticiário o exaspera. “Fico bravo com isso, esse sujeito (o bicheiro) estar sujando o nosso nome”. Pois, afinal, “quando falam Cachoeira no noticiário, as pessoas que nos conhecem podem pensar ‘será que é parente do Cachoeira’?”

A situação, para Rodrigo, é ainda mais grave, “quando se sabe que o sujeito não se chama Cachoeira, é apenas um apelido.” A família mora na Ponte Rasa, na região da Penha, zona leste de São Paulo. Em curta conversa por telefone, Rodrigo diz que seu avô paterno veio da Bahia.

Não tem mais detalhes. Sabe apenas que, em São Paulo, o avô se instalou como feirante. Teve sete filhos. Um deles, o pai de Rodrigo, é metroviário. Teve, por sua vez, seis filhos.

Rodrigo conta que é chamado pelos amigos de Cachoeira. “Eu gosto, é um nome bonito.” Se num lugar público, uma lanchonete, chamam seu nome, todo mundo olha? “Não sei, nunca notei.” Ele pesquisou nas redes sociais, e encontrou cinco pessoas com seu nome e sobrenome. “É uma família grande, mesmo. Será que aqueles são meus primos?”

A advogada aposentada Zenaide Cachoeira da Silva, que mora na Liberdade, perdeu o pai há 17 anos. Sabe que sua família veio de Vitória da Conquista, na Bahia, a 512 quilômetros de Salvador. O pai era agricultor, e aqui trabalhou como taxista.

Zenaide diz não ter “interesse especial” pelo noticiário sobre Carlinhos Cachoeira, o bicheiro. “Também não me preocupo com o nome dele, não tem nada a ver com a família Cachoeira. Cada um responde por seus atos.”

Há dois anos, o gol de um craque deu ao ABC de Natal, no Rio Grande do Norte, o título mais importante do Estado. Sagrou-se campeão brasileiro da série C. O jogador por pouco não se inclui entre os que têm relação com o nome Carlinhos Cachoeira. Estamos falando, neste caso, do atacante Cascata.

Esta reportagem foi originalmente publicada no Diário do Comércio

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