Um no colo do outro, avô e neto conversam.
Olhos seguindo o trator carregado de cana que desfila pela estrada, o menino quer saber quando vai poder dirigir um assim, enorme, vermelho.
— Um dia, responde o avô.
— Hoje?
— Não, hoje não. Você ainda é pequeno, seu pé nem alcança lá onde precisa alcançar, hoje não, daqui a algum tempo, primeiro tem que crescer.
— Amanhã?
— Não, amanhã não. Amanhã é quase hoje, quase a mesma coisa, um dia só de diferença, que diferença faz?
— Que dia, vô?
Olhos seguindo a poeira que o trator deixou na estrada, o homem passa a mão pelos cabelos – pretos, cacheados – do neto.
Ele diz que não sabe. Se soubesse, diria. Ainda não descobriu qual o melhor dia para se começar a dirigir um trator.
— Vô, se você não sabe, quem é que vai saber?
— Seu pai, quem sabe ele sabe?
— Ah, vô! Meu pai? Seu filho? Filho não serve, vô! Tem que ser pai. Cadê seu pai, vô?
Olhos na estrada, o homem vê que a poeira – também – se foi. Abraça o neto com força, um no colo do outro.
Esta crônica foi originalmente publicada no primeiroprograma.