Arreda pra lá, 2011

Os falares do Brasil, essa riqueza lingüística contida em nosso idioma único, costumam surpreender os brasileiros que convivem com gente nascida e criada nas várias regiões do país. Há um estranhamento justificável em quem pouco viaja pelo nosso território, não frequenta os dicionários e acha que o português começa e termina no bairro elegante e chique em que mora. O jeito de se expressar do povo que habita as várias regiões brasileiras tem surpresas, histórias e muita sabedoria que devem ser respeitadas e admiradas. Não somos um povo de um só padrão. Unidade e diversidade são a nossa identidade.

Falo isso por que resolvi, como todas as pessoas que seguem o calendário ocidental, dar um chega pra lá no ano que terminou e deixar espaço para o que chegou. Mineiro que é mineiro, quando algo ou alguém ocupa um lugar que não será mais seu, diz “arreda.” E já notei que o pessoal do “x” estranha. Mas é só consultar o livro que desmancha dúvidas para aprender que arredar é o mesmo que afastar, desocupar, deslocar, apartar, remover e por aí vai.

Dito isso, arredo 2011 para colocar no pódio 2012, com o fim de vivê-lo e lhe dizer cara a cara o que quero dele. No Brasil, nossa casa de existir e morar, não suporto mais a mediocridade dos poderes, que administram com pequenez o presente e arriscam inviabilizar o futuro. Onde a lucidez e a competência para enxergar todo o horizonte, pensar e construir os caminhos para uma política que não nos impeça de alcançar o grau de cidadania que merecemos? Arreda para lá a mesquinharia de se furtar o que é público e representar não os cidadãos, mas um reles espetáculo em que tudo gira em torno de se eleger e reeleger e reeleger. São incapazes de tapar um buraco no asfalto, o que dizer de cuidar da educação, saúde, segurança, conhecimento e do bem viver dos brasileiros? São todos cegos?

Não. Existem alguns que enxergam, mas não comandam o barco.

O que vale para o Brasil vale para os governantes e assassinos globais.

Esses são os desejos chateados, mas eu tenho outros, mais suaves. Quero continuar gozando o sorriso e a alegria da Clara e do Lucas. Quero olhar para o casal que, do retrato, parece me observar, e ter certeza de estar trilhando uma estrada que aprendi, de solidariedade, afeto, amizade. Quero a poesia e a música, quero a felicidade de todos, começando pelos que moram em meu coração que, se não é enorme como o mundo, nele cabem toda as pessoas que amo. Minha família, meus amigos, todos os companheiros de travessia da existência e o Brasil: esses são o meu mote, meu refrão. Com eles eu canto a vida.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em janeiro de 2012.

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