Na última edição do Jornalistas & Cia – a de número 843, de 25 de abril de 2012 -, foi publicada uma carta de Dirceu Martins Pio que, mesmo sem a autorização formal dele, quero reproduzir aqui.
Diz Pio ao J&C:
“Li e apreciei a edição especial do Dia do Jornalista. Escrevo com a intenção de talvez reparar três omissões que considero eloquentes.”
E aí enumera três jornalistas que, segundo ele, deveriam ter constado da edição especial: Raul Martins Bastos, Rodrigo Lara Mesquita e Laurentino Gomes.
Pio trabalhou com todos os três, conhece-os bem.
Raul Bastos é hoje uma figura quase mítica: todo mundo que trabalhou com ele (eu não tive esse privilégio) o adora. Não é que as pessoas gostem dele, não: as pessoas o adoram.
Laurentino foi subalterno de Pio. Não me lembro bem, mas acho Laurentino foi quase foca de Pio, quando este era o chefe da sucursal do Estadão em Curitiba, e Laurentino se uniu à pequena equipe. Cresceu como jornalista sob as ordens de Pio. O mundo gira, a Lusitana roda, e às vezes o mundo e a Lusitana dão voltas surpreendentes. Laurentino teve uma carreira brilhante, e chegou à estratosfera do jornalismo muito depressa. Chegou à estratosfera tão rapidamente, que resolveu abandonar tudo o que já havia conquistado e tentar um novo caminho. Afastou-se do cargo de diretor não mais da Veja, mas da Editora Abril, para lançar-se à aventura de unir jornalismo e História. Seu primeiro livro, 1808, foi o que foi, um sucesso absoluto, e depois dele veio o 1822, e em breve sai o terceiro, 1898.
Raul, um jornalista que é quase um mito, Laurentino, um jornalista que chegou aos píncaros da profissão e mudou tudo e virou um dos autores mais vendidos do país.
Dirceu Martins Pio escreveu ao Jornalistas & Cia dizendo que sentia falta deles, na edição especial da publicação mais lida pelos jornalistas do Brasil que comemorava o Dia do Jornalista.
Deles, e de Rodrigo Mesquita.
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Transcrevo aqui, ainda que sem a autorização do Pio, o que ele diz sobre Rodrigo Lara Mesquita:
“Espero que seu nome não tenha deixado de constar da lista de notáveis em razão de ser acionista do Estadão. Seria injusto. Mino Carta foi dono e acionista de várias publicações e nem por isso deixou de ser lembrado.
“Rodrigo Mesquita foi quem criou a nova versão da Agência Estado (a contar de 1988), fazendo surgir, assim, a primeira agência de informações do País. Para quem desconhece, explico: as antigas agências de notícias, do tipo UPI, atendiam exclusivamente à própria mídia; as agências de informações atendem às mídias, mas também – e principalmente – os mercados, na condição de consumidores finais da informação.
“Não foi pouco: a Nova AE, como passou a ser chamada, saltou de uma receita de US$ 500 mil para um faturamento superior a R$ 100 milhões em dez anos. E isso exclusivamente com a venda de assinaturas de serviços informativos à própria mídia (residual) e a mercados (receita principal). Os terminais informativos da Nova AE estão presentes hoje em praticamente todas as mesas financeiras do País.
“Foi a Agência Estado que introduziu no Brasil o ‘tempo real’, esse novo conceito de produção e propagação da notícia. O projeto da Nova AE foi estruturado muito em função do visionarismo de Rodrigo Mesquita, dos poucos jornalistas a enxergar, premonitoriamente, com larga antecedência, todo o impacto da internet e das novas mídias digitais sobre a sociedade, a economia e, principalmente, sobre o mercado de informações.”
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Tudo isso que Dirceu Martins Pio diz é a mais pura verdade.
Mas é mais do que dizer a mais pura verdade dos fatos. Acho que o gesto do Pio ao escrever essa carta é de extrema coragem.
Ao dar a Rodrigo Lara Mesquita o que lhe é de direito, Pio se expõe ao ódio dos primatas, dos idiotas, que dividem as pessoas em duas categorias – de um lado patrão, de outro lado nós, os trabalhadores. Para essas pessoas, defender patrão, mesmo que hoje seja ex-patrão, é uma vilania, uma baixeza, uma traição à categoria.
Visionário, premonitório, Rodrigo teve a inteligência de chamar para dirigir a nova Agência Estado dois grandes profissionais, Sandro Vaia e Elói Gertel. Como o próprio Pio, Júlio Moreno, Laerte Fernandes e Ademar Oricchio, tive o privilégio de participar – ainda que como coadjuvante, mero figurante – da experiência de reinventar a Agência Estado, a partir de meados de 1988.
Houve muita briga mais tarde, em especial depois que Sandro e Elói assumiram postos de direção na S.A. O Estado, o Grupo. Mas, acima de qualquer briga, está a verdade dos fatos. Dirceu Martins Pio expôs a verdade dos fatos no Jornalistas&Cia.
Uma beleza de gesto.
Um brinde a você, caro Pio.
26 de abril de 2012
Assino embaixo, Vaz.
Também, como o AB, assino embaixo. E mais, Servaz: v. foi muito feliz em dose dupla, reproduzindo o texto do Pio e pelo o que escreveste a respeito em seu “nariz de cera”, hehehe. V. está afiadíssimo, mon cher ami, hehehe de novo.
Sergio, não li a carta do Pio, por isso não sei se ele apontou ou não. Mas é preciso dizer que a Agência Estado foi uma criação do Raul Bastos.
Com certeza o Goés tem razão: a Agência Estado original foi uma criação do Raul Bastos.Todos os méritos.Mas o Sérgio Vaz está falando da recriaçao da Agênca Estado.Outra história,outra realidade,outro contexto.Colocar ambos em contraposicão, ou em conflito, empobrece a história de dois momentos importantes do jornalismo brasileiro.
http://pt.scribd.com/doc/3918982/ae-urgente-a-midia-somos-nos-
“O primeiro site de informação jornalística no Brasil – o da Agência Estado – começou a nascer em 1988. A visão de que o desenvolvimento dastecnologias de informação e comunicação, TICs, iriam determinar o futuro das tradicionais empresas jornalísticas, foi o mote para iniciar a transformação de uma unidade operacional do Grupo Estado numa inovadora empresa virtualde informação.
Estávamos em 1988 e o objetivo explícito era o de criar um serviço de informações econômicas em tempo real, visto que a comunidade financeira era a única, naquela época, em condições de sustentar uma empresa de informação com estas características. O objetivo implícito era iniciar o processo de conquista de conhecimento para, no futuro, contribuir para o processo de migração dos tradicionais negócios de uma empresa jornalísticado papel para as redes de comunicação e os diversos displays que elas comportam.”
Era esta a perspectiva. Foram anos fantásticos. Tenho uma puta saudades.
abraço a todos
Não, Sandro, longe de mim a intenção de contrapor Raul e Rodrigo. Quis apenas fazer justiça ao pioneiro.abs.
Não acompanhei de perto a evolução da AGência Estado, mas tinha certeza do seu sucesso quando para lá foi Sandro Vaia, um dos mais competentes e íntegros profissionais do nosso jornalismo e com quem tive o privilégio de trabalhar na revista “Afinal”. Abraços ao Servaz, Melchiades, Sandro Vaia e aos demais amigos da Maria Antônia.
Um nadica como eu teve o privilégio de testemunhar grande parte de toda essa história, em bons e saborosos nacos, por etapas, como repórter e depois como editor. E conheceu e conviveu com mestres como Sandro, Servaz, Anélio, Melchíades, Ademar, Dirceu e o Rodrigo. Outro dia mesmo, não resisti: mandei uma nota assim, na mensagem do face para ele, que estava no ar – ‘saudade de você, meu melhor patrão!’ Tempos de pionerismo imemorável. A pergunta agora é: por onde andarão os novos pioneiros?
Ah, faltou o Eloi.
Como presidente y fundador del INNOVATION Media Consulting Group me sumo a este justo reconcimiento a los profesionales que secundaron al visionario de Rodrigo Lara Mesquita, con quienes tuvimos el honor de trabajar en lo que fue una de las primera turbinas post-periodísticas del mundo. Fueron pioneros y este homenaje es de justicia. Parabens a vocés!
Para o Pedrinho Fávaro: Ô Frei, pára com isso de “um nadica como eu”, siô! Você é nota 10 com l ouvor, meu!
Ah, e fez em em lembrar do Elói.
Para o professor Giner: como diria o FHC, ter uma mensagem sua em meu site é muita honra para este pobre marquês!
Pio e Servaz escreveram o que poderia ser um bom prefácio sobre a AE dos anos 90. Que tal continuarem ?
Raul Bastos escreveu-me para agradecer e respondi-lhe que se ele – e tantos outros jornalistas de grande talento – não tivessem sido abatidos na curva de subida, como diria Fernando Pessoa, o jornalismo brasileiro não estaria tão amorfo quanto se encontra hoje.
Fiquei comovido com os comentários de Sérgio Vaz, que entendi como uma homenagem, a qual agradeço de coração.
Queria acrescentar que de fato a Agência Estado foi criada pelo Raul, que teve o mérito de deixar intacto, ileso,livre das ameaças internas, o “hardward” no qual Rodrigo depositou vários “softwares” de talento. Ambos merecem reconhecimento público.
Grande Pio!
A Raul o que é de Raul, a Rodrigo o que é de Rodrigo, a Pio o que é de Pio.
Os três merecem reconhecimento. O primeiro por ter criado a Agência Estado. O segundo, por tê-la recriado. O terceiro, por trazer a público o reconhecimento da obra – uma bela obra.
Um abraço, caro Pio.
Sérgio
Dirceu Pio. Aqui o Lima, de Manaus. Trabelhamos juntos no Estadão numa época em que o jornalismo do jornal falava por si só. Que bons tempos passei entre vcs todos. Um forte abraço.