Não sou daqueles que acham que o mundo piorou. Nem sou como o Pangloss, de Voltaire, que dizia que estamos no melhor dos mundos e tudo vai pelo melhor. Dona Clemência, que nasceu e viveu muito tempo na roça, ficou viúva cedo e sobreviveu graças ao trabalho braçal, testemunha os avanços da humanidade que tornaram mais fácil o cotidiano das pessoas. Outro dia mesmo ela colocou um marca-passo, que lhe devolveu disposição para continuar distribuindo alegria.
Não penso que muita informação signifique conhecimento. Assim, na medida do possível, eu vou filtrando o excesso de fatos, notícias e opiniões que os meios novos e antigos de comunicação nos oferecem. Aqui do meu canto discreto, cercado de livros, discos e pessoas que valem a pena, nessa passagem de janeiro para fevereiro, assistindo ao rodízio de chuvas pesadas e céu azul, medito sobre o nosso país e seu destino.
As oportunidades construídas em quase vinte anos com o esforço coletivo apontam para um horizonte mais rico, solidário e justo . Aproveitaremos isso ou, mais uma vez, a vitória nos escorrerá pelos dedos igual água? Sou otimista, mas faço algumas reflexões sobre o que pode nos esperar.
Diante da complexidade dos obstáculos que precisamos superar, só a esperança não basta. Qualquer brasileiro de cultura média sabe que o maior entrave para o nosso sucesso é a educação. Os analfabetos e os semi são um peso que não dá para carregar. Incluídos no conhecimento, com sua força o país seria mais leve de levar. Além da educação, tem a saúde e o saneamento, essenciais para que o nosso lugar de morar caminhe. Estou falando o óbvio quando acrescento a moradia e a segurança. E os governos têm dinheiro e competência para realizar essas tarefas?
Aqui da planície, olhando bem, eu respondo que dinheiro tem e competência muito pouca. Coitada da Dilma. O empresário Gerdau lhe dá conselhos para tornar o governo eficiente, mas ela não consegue diminuir os ministérios. Tenta reformar a gestão através dos executivos que estão abaixo, politicamente, dos ministros. Pode dar certo? Não sei, tomara, pois o que está em jogo é a vida dos milhões de brasileiros.
Há um fato, além dos partidos e ideologias: o estado é incapaz de fazer o que o povo necessita. Estradas, portos, toda a estrutura complexa e cara, hoje inexistente ou ineficiente, deveria ser regulada e fiscalizada pelo poder público, mas transferida à iniciativa privada. Sem roubo ou desvios, vigiada com olhos atentos e honestos de bons governantes. Aí o dinheiro público sobraria para que se fizesse o que deve ser feito.
Essa idéia circula no meio do povo. Um taxista me disse, outro dia, lembrando-se de serviços públicos que emperravam a vida de todos e hoje, em mãos privadas, trouxeram facilidades, sugeriu que se privatizasse o estado. Não concordo, pois o espaço do poder público é importantíssimo, mas anotei.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em fevereiro de 2011.
Gostei do seus trabalho, Mas gostaria de sugerir que da próxima vez tratasse dos temas planalto e planície separadamente parece dar mais oportunidade de discussão