Acontecimentos extraordinários agitam o governo. E não se trata da nova política industrial e muito menos das medidas destinadas a conter a supervalorização do real.
Os especialistas nesses temas já deram seu veredito: são medidas paliativas, que, como se sabe, é uma definição elegante para substituir o vulgar meia-boca.
São os eventos políticos e seus condimentos que dão sabor ao prato exótico servido pelo governo. Senão vejamos:
1) A presidente da República jogou todas as suas fichas promovendo uma “faxina” no Ministério dos Transportes, cortando a cabeça de cerca de 20 funcionários graduados que tinham em comum o fato de pertencerem ou terem sido indicados pelo PR (Partido da República) e de serem suspeitos de irregularidades na gestão de suas respectivas áreas. Nenhum deles foi formalmente acusado de nada e nem responderá por nada, uma vez que ninguém foi denunciado à Justiça.
2) O principal deles, o próprio ex-ministro Alfredo Nascimento fez um pronunciamento irado ao reassumir seu mandato de senador, disse que o PR “não é lixo”, insinuou que os gastos do ministério aumentaram por conta da campanha eleitoral de 2010, e que a atual presidente e então ministra da Casa Civil sabia de tudo.
3) Toda a “faxina” realizada no Ministério dos Transportes foi provocada por denúncias de irregularidades publicadas pela imprensa. A mesma imprensa, e mais Oscar Jucá Neto, o irmão do líder do governo Romero Jucá, denunciaram a existência de um esquema de corrupção no Ministério da Agricultura, comandado pelo peemedebista Wagner Rossi, e não aconteceu nada. O líder do governo pediu desculpas pelo irmão, fez-se de conta que não aconteceu nada, e a vida continuou normal no feudo de Wagner Rossi.
Hipóteses a considerar.
Primeira: a vassoura usada na “faxina” dos Transportes gastou-se por excesso de uso.
Segunda: alguém lá do Alto mandou (ou aconselhou) parar com a “faxina” porque não é de bom tom ficar incomodando toda hora os companheiros de viagem com esse tipo de sobressalto inconveniente.
Terceira: bem medidos altura, peso, envergadura e número de votos de cada um dos parceiros envolvidos, alguém dentro do governo achou mais prudente levar em conta que PMDB não é a mesma coisa que PR e que portanto seria melhor não mexer em caixa de marimbondo grande.
A “faxina”, então, terminou, e ao que parece não é por falta de sujeira. A única vítima acabou sendo o PR, que, com toda a altivez e a grandeza de princípios que o caracterizam, decidiu continuar onde sempre esteve: apoiando o governo, custe o que custar, ainda que a preço de liquidação- se comparado com o PMDB.
Para terminar o exercício de exotismo político, só faltava a exibição solo da prima ballerina Nelson Jobim, ministro da Defesa, que resolveu fazer um haraquiri exótico em pleno palco, dizendo-se eleitor do adversário da presidente eleita e zombando das ministra Gleisi Hoffman e Ideli Salvatti, para enfim retirar-se de cena sob vaias da torcida do time da casa e estupefação do time adversário.
Groucho, Harpo e Chico Marx não fizeram confusões melhores em Uma Noite na Ópera.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 5/8/2011.