Roubaram meu texto

Roubaram um texto meu. Pegaram um texto meu e republicaram – numa página dentro do UOL, da Folha de S. Paulo – sem qualquer tipo de menção da autoria.

Coisa mais comum na vida, eu sei. Fazem isso diariamente, aos milhares. Tá reclamando de quê, então?

Ué – se a gente não puder nem reclamar quando é assaltado, roubado, então em que mundo vivemos?

Bem. Acho que seria bom contar o que aconteceu, antes de fazer considerações, filosofadas, jus sperneandi.

Roubaram meu “Glossário”, o longo texto que escrevi, em julho de 2008, para o site que estava então botando no ar, o 50 Anos de Filmes. É um texto longo, com explicações sobre alguns termos técnicos, algumas coisas básicas da gramática do cinema.

Não é um texto literário, criação única e exclusiva da minha cabeça. Nem uma descoberta científica. Não traz informações absolutamente inéditas. Mas é o resultado de muitos anos de vivência, e também de uma boa pesquisa. Li bastante para escrever o texto, me informei em diversas fontes. Usei definições dadas antes por outras pessoas, e dei o devido crédito a elas, como Ivor Montagu, Franz Weyergans. Sempre que uso uma idéia já expressada por alguém, faço questão de dar o crédito.

Mas o texto não é cópia de nada – é um texto meu, pessoal e intransferível como dor de dente, como são todos os meus textos. Uso a primeira pessoa do singular – coisa que o jornalismo engravatado diz que não deve ser feito.

Lá pelas tantas, digo, por exemplo: “Não posso jurar, mas acho que John Ford jamais usou um ultra-super-big-close-up em nenhum de seus mais de cem filmes”. Mais adiante, solto um: “Desconheço a existência de um nome, em qualquer língua que seja, para definir as tomadas em que a câmara fica torta, entortada, em que o chão fica na diagonal – uma posição que, convenhamos, não faz sentido algum, a não ser talvez para um esportista que esteja catando cavaco, desequilibrado, pouco antes de cair no chão.”

Isso é texto de Sérgio Vaz. É meu, pessoal e intransferível.

E, mesmo que não fosse um texto de Sérgio Vaz, seria de alguém, já que tem frases em primeira pessoa, certo? O ladrão sequer notou isso. Publicou o texto roubado sem assinar ninguém. É estranhíssimo que alguém fale em primeira pessoa e não se assine.

***

Mas o pior vem depois que você sabe que foi roubado. É quando chega a hora de você reagir ao roubo – e aí é duríssimo, porque parece que não há o que fazer. Não há sequer um bispo a quem se possa reclamar.

O UOL, empresa que pertence à Folha de S. Paulo, diz que existe um jeito de falar com o site. Tem lá um faleconosco@uol.com.br.

Fiz um e-mail educado. Comecei com “Prezados senhores”, dei o endereço do texto roubado, dei o endereço de onde o texto foi originalmente publicado, e disse:

“Digamos que não tenha sido um roubo. Digamos que a pessoa omitiu que estava transcrevendo um texto. Peço então aos senhores a gentileza de pedirem a seu colaborador que corrija seu pequeno engano e dê o devido crédito.”

Terminei com um “Atenciosamente”.

Fiz três tentativas de enviar a mensagem – as três foram devolvidas.

***

É aqui que a indignação é maior.

O site que pertence à empresa da Folha de S. Paulo permite que se publique lá material roubado – e, ao mesmo tempo, anuncia que tem um “Fale Conosco” que não funciona.

O UOL é conivente com ladrões. E mente descaradamente ao dizer que tem uma forma de receber mensagens.

3/5/2011

3 Comentários para “Roubaram meu texto”

  1. Pura falta de ética. Tomara que eles deem logo os devidos créditos.
    Poste o link que seu texto foi roubado!

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