Prevenção não ganha eleição

Há quatro anos, o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou investimentos de R$ 115 milhões para a criação de sistemas de alerta capazes de poupar vidas em catástrofes anunciadas. O dinheiro não entrou na primeira versão do PAC; deveria constar no PAC 2, ainda que reduzido a menos de um terço – R$ 36 milhões. Mas nada. Não apareceu em canto algum simplesmente porque prevenção não dá voto.

E isso vale não só para a tragédia da região serrana do Rio, que engoliu quase oito centenas de vidas e deixou outros milhares sem eira ou beira, mas para todas as áreas em que o Estado deveria se apresentar como ente educador e financiador da prevenção. É assim na saúde, na infra-estrutura e, claro, na Defesa Civil, primo pobre dos orçamentos oficiais.

Políticos correm para inaugurar novos postos de saúde e hospitais, mas raros são aqueles a investir em água e esgoto tratados, que evitariam uma série de internações, especialmente de crianças, principais vítimas da irresponsabilidade dos governantes. No PAC foram concluídas apenas 8% das obras de saneamento previstas.

Adoram descerrar faixas de novas estradas, 69% delas deficientes, sendo 24% em péssimas condições por falta de manutenção, de acordo com estudo do Ipea/2009. A ponte JK, em Brasília, é um exemplo pronto e acabado disso. Acaba de ser parcialmente interditada porque desde a sua inauguração, em dezembro de 2002, não passou por qualquer tipo de manutenção. O mesmo ocorre com os linhões de energia, que só receberam algum recurso de conservação, ainda assim emergencial, depois dos apagões de novembro de 2009, que, se repetidos, poderiam ser fatais para a campanha de Dilma Rousseff.

A regra, todos sabem. Prevenir é eficiente, basta ver o resultado das polícias comunitárias na capital paulista e das UPPs no Rio. Remediar é infinitamente mais caro. Só para a calamidade serrana o governo federal já liberou mais de R$ 1 bilhão, quase 10 vezes mais do que deveria ter sido gasto em prevenção. Isso sem contar que vidas não têm preço.

Ainda assim, a maior parte dos políticos empurra a prevenção com a barriga. Possivelmente porque em ações preventivas – que muitas vezes não passam de coisas corriqueiras como limpeza de córregos, galerias, tapa-buracos, fiscalização e contenção de encostas -, não há lugar para a placa de bronze com o nome do governante da vez. Não comportam fogos de artifício, muito menos palanques.

Tudo tem um só nome: voto. E para tê-los muitas vezes bastam promessas, mesmo as sem qualquer lastro como as do PAC.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 23/1/2011.

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