Para trás é que se anda

Encontros com presidentes das grandes potências e um discurso na Assembleia Geral da ONU que, se não foi marcante ou inovador, teve mais elogios que críticas. Se os dias de Nova York foram dourados para Dilma, o mesmo não se pode dizer para o país que ela governa. Por aqui, andou-se a passos largos rumo ao atraso, muito mais perto do quinto que do primeiro mundo.

A presidente que condenou veemente o protecionismo comercial na tribuna das Nações Unidas, nem parecia a mesma que dias antes impusera o aumento do IPI para carros importados. Além de inconstitucional – alterações de IPI só podem entrar em vigor após 90 dias -, a medida expôs a instabilidade jurídica do país, sem motivo, argumento ou lógica. Prejudica o consumidor, afugenta novos investimentos e empregos.

Diante do protecionismo descarado do qual o país pensava ter-se livrado, os chineses da JAC avisaram: não pretendem mais construir a prometida fábrica no Brasil.

Na área social, outra bomba: o governo ampliou a bolsa-família das grávidas para até o quinto filho, com o pagamento mensal de R$ 32.

O benefício divide opiniões. Há os que dizem que o valor irrisório não é suficiente para estimular a natalidade. Pode até ser. Mas a questão vai muito além do valor. É um sinal deseducador, anos-luz de distância do conceito de planejamento familiar, arma poderosa contra a perpetuação da miséria. E, como se sabe, governo se faz por símbolos e sinais.

O Judiciário não fez por menos. Com decisão nunca antes tão célere neste país, anulou todas as provas que a Polícia Federal colheu desde 2006, autorizada em primeira instância, sobre as movimentações nada lícitas de Fernando Sarney, irmão de Roseana, filho de José.

A decisão do Superior Tribunal de Justiça transformou o Brasil em um imenso Maranhão, o estado mais atrasado, com IDH comparável ao de Biafra.

No Legislativo, a Câmara dos Deputados quase salvou a semana ao impedir o renascimento da CPMF. Mas curvou-se ao sindicalismo barato ao aprovar a extensão do aviso prévio para até 90 dias, quando o mundo inteiro tenta desonerar os encargos dos empregadores para garantir ampliação do mercado de trabalho.

E mais: com a presença de apenas um deputado além do presidente, a CCJ aprovou, em três minutos, 118 projetos. Demonstração inequívoca do apreço que os parlamentares têm pela tarefa legislativa para a qual foram eleitos. Algo só admissível em plagas subdesenvolvidas.

Com exemplos como esses, próximos de práticas do século 19, difícil reivindicar o papel que o Brasil almeja. Difícil ir além do discurso para chefes de Estados verem. Dificílimo andar pra frente.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 25/9/2011.

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