Na Amazônia, ao natural

Programa de índio, na Amazônia, é você viver como um deles, nem que seja por alguns minutos. A sensação gostosa de se integrar à Natureza de um jeito inteiramente natural, ou seja, nu.

Sinto não poder descrever o que estava fazendo na Amazônia, quem era o meu companheiro das lentes (o fotógrafo), em que ano estávamos. Não lembro mais. Mas recordo que voávamos em um gracioso Skylander, um aviãozinho monomotor bom de pouso em pista de terra.

Foi assim que descemos em um povoado, às margens do Teles Pires. Ver um riozão desses vale a viagem. Ele corre pelo Mato Grosso, para o Norte; lá em cima, forma com outros dois rios o Bico de Papagaio, divisa desse Estado com Pará e Amazonas.

O comandante, como se deve chamar o piloto, ficou no lugarejo com o avião. O colega e eu alugamos um barco e zarpamos. O destino era uma ilha do Teles Pires. Ali, alguns dos Mesquitas, nossos patrões no Jornal da Tarde, costumavam passar alguns dias no lazer da pescaria.

Chegamos ao entardecer. Fiquei surpreso ao ver onde nos hospedaríamos. Uma espécie de palacete de pau a pique, coberto por palha. O rústico confortável.

O responsável pelo lugar nos esperava (seguramente havíamos avisado sobre nossa ida por rádio). Era um homem amável, e pareceu contente por nos ver. Descemos as malas, e demos uma olhada pelo lugar.

Então, o bravo profissional que vos escreve teve a idéia, por sinal um pouco óbvia. Aquela proximidade de noite, tanto calor… Que tal um banho de rio? Siiimm. E por que não, só nós e a natureza, pelados? Claaarooo.

A água estava uma delícia. Em terra, nosso anfitrião deixou um empregado, um rapaz, nos observando. E lá ficamos, desfrutando a sensação única da vida “selvagem”… Momentos raros (viagens são boas, cheias de aventura, mas de muito trabalho).

Foi quase por acaso que uma idéia varou minha mente. Olhei para o fotógrafo, nenhuma preocupação. Gritei para o funcionário à margem:

– Companheiro, este rio tem jacaré?

E ele, em tom tranquilizador:

– Não, não… Só o de papo amarelo.

Rápida debandada. Quem está interessado em cor de papo? A salvo, na margem, o rapaz nos explicou que o de papo amarelo não costumava atacar. Pior era o peixinho tal (disse o nome), minúsculo, que entrava no canal da uretra. Felizmente, desse também escapamos.

Logo anoiteceu. Eu estava no banho, quando ouvi alegres exclamações. Alguma coisa encantava meu companheiro.

Vesti uma tanga… Não, a cota de vida selvagem terminara. Bermuda e camisa. O clima festivo vinha da cozinha. Entrei e vi o peixão nas mãos do amável homem.

Era um pintado grande, acabara de ser pescado. Com nossa chegada, um pescador (talvez o da casa) pulara para o barco com a missão de providenciar o jantar. E pescara o baita.

Acresce que o nosso anfitrião era cozinheiro de mão cheia. Tivemos um jantar delicioso. Peixe tirado da água tem outro gosto (e o homem realmente manejava bem o fogão). O Teles Pires é rio muito piscoso, mas nem sempre, nos informou o bom homem, a pescaria dá certo. Por garantia, matara uma ou duas galinhas, deixadas de lado. A sorte estava mesmo do nosso lado.

O dia seguinte era domingo. Nosso anfitrião insistiu em que ficássemos para uma pescaria. Mas tínhamos muito o que fazer. Algum tempo depois, o Skylander decolou para outro destino…

A charge é de Oswaldo Gil

 

2 Comentários para “Na Amazônia, ao natural”

  1. O tal peixinho que já penetrou nas entranhas de um tanto de gente chama-se candiru. Valdir Sanches brinda-nos com seus retratos. Conte mais.

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