Houve um tempo, mais precisamente durante o vintênio militar, que ser de direita no Brasil não era apenas de bom tom, como era praticamente obrigatório, sob pena de ser mal visto, na mais benigna das hipóteses, ou de ser preso e torturado, na mais policialesca e brutal das hipóteses.
O partido do governo, a Arena, que juntava direitistas natos e convictos, oligarcas do atraso, coronéis dos grotões e oportunistas de toda espécie (partidos que apóiam o governo no Brasil costumam atrair mais arrivistas do que os postes de luz atraem mariposas) chegou a ser proclamado “o maior partido do Ocidente” pelo seu então presidente,o inesquecível Francelino Pereira.
As inacreditáveis alquimias políticas do Brasil foram transformando a face da Arena. Depois do final da ditadura tentou se tornar mais palatável com o nome de PDS – Partido Democrático Social. Uma costela dele, cansada do desgaste de ter que administrar os detritos políticos da ditadura, separou-se do corpo e mudou para PFL – Partido da Frente Liberal -, que nasceu para apoiar o candidato da oposição Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Mais tarde, entrou no condomínio de poder com o PSDB no governo Fernando Henrique, até vir a se transformar em Democratas, apelido DEM, uma espécie de partido liberal ma non troppo, que perdeu seu passado e em compensação também não achou seu futuro e está à beira de um ataque de nervos em busca de sua própria identidade.
Num dia desta semana, o DEM, depois de uma desastrada performance sob a presidência do jovem Rodrigo Maia, amanheceu sob nova direção. Seu novo-velho presidente, José Agripino, fez questão de dizer, como é de praxe nos momentos atuais, que o DEM “não é um partido de direita”.
Mas o que é, então, o DEM nessa geléia partidária brasileira? Desde o final da ditadura e depois do tumultuado período de Collor, o Breve, a narrativa política brasileira tornou hegemônico o discurso esquerdista, e mais precisamente os ideais de uma certa e vaga social democracia, defendida em variados matizes por PT, PSDB e vários outros partidos-satélites, na contramão dos ventos históricos que varreram o mundo depois da derrocada do Muro de Berlim.
Ok, ser de direita é de mau gosto, deselegante até, quase uma ofensa nos círculos contemporâneos do bem pensar. Disgusting.
Mas então quem é que vai representar as pessoas que continuam achando que a melhor forma de liberdade e de avanço social é representada por uma economia de mercado, aberta, livre e competitiva? Quem é que vai se opor ao avanço do Estado não só sobre o bolso do contribuinte, mas também na demarcação dos territórios onde o indivíduo exerce seu livre arbítrio?
No mercado de idéias políticas do país há alguns milhões de desamparados à espera de alguém que tenha a coragem de assumir a representação de um pensamento político liberal e democrático.
O DEM não parece muito disposto a vestir a camisa liberal e assumir a defesa desses sem-partido. Na verdade, como em suas origens arenistas, parece ter mais apetite por projetos de poder do que por um projeto de País.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 18/3/2011.