Chega desse negócio: faxina não é programa de governo e o Brasil não é a Roma antiga. ”Se combate o malfeito, não se faz disso meta do governo. Faxina no meu governo é faxina contra a pobreza, o resto são ossos do ofício da Presidência.”
Dilma Rousseff, a terceira mulher mais poderosa do mundo, está recuando naquilo que parecia ser a sua cruzada moralizadora, ou nós nos enganamos e na verdade essa cruzada nunca existiu e não passou de uma ilusão de ótica?
A verdade parece ser essa: a terceira mulher mais poderosa do mundo nem é tão poderosa assim, tanto que se sentiu obrigada a curvar-se à ditadura da “realpolitik” e acalmar a sua inquieta e inconformada base política, assegurando, com essa trivial filosofia da Roma antiga, que a onda de demissões está encerrada.
Para a tomada dessa decisão, a presidente contou com a inspiração e a ajuda – para não usar conceitos mais pesados – de seu criador político, o ex-presidente Lula, que luta desesperadamente para “desencarnar” do cargo em que ele mesmo, tão generosamente, entronizou a sua criatura, e tão mesquinhamente reluta em deixar que exerça por completo.
É uma questão de estilo e formação: Lula não consegue disfarçar a tutela que exerce sobre o seu conglomerado político e sobre a sucessora que ele mesmo criou.
Ao PT, está impondo, de sua exclusiva lavra, a candidatura do ministro da Educação Fernando Haddad, apesar da indigência operacional de sua gestão, à prefeitura de São Paulo.
Não importa que para isso tenha que mandar para o lixo algumas flores conceituais que o PT fingiu cultivar desde o seu nascimento, como a democracia interna das prévias eleitorais, e uma figura histórica do partido, como Marta Suplicy.
A Dilma impôs, além do conselho pragmático de ser mais tolerante com o maior partido da base aliada, o PMDB, e deixar de irritá-lo com ameaças de faxinas, o constrangimento de receber no escritório de seu Instituto o advogado geral da União e o próprio ministro da Educação, para cobrar deles certas ações executivas que só um chefe pode cobrar de um subordinado.
Sem ser perguntado, o ex-presidente repete para a imprensa, para seus interlocutores e para seus áulicos, sempre que pode, que Dilma só não será candidata à sua própria sucessão se não quiser.
Como a próxima eleição presidencial está mais longe que a Copa do Mundo, a quem interessa colocar a discussão em pauta agora a não ser a quem tem interesse em lembrar diuturnamente que está aí, pronto para voltar nos braços do povo?
Lula, aquele que ia ensinar ao mundo como é que deve agir um ex-presidente, está cada dia mais empenhado em espalhar sua grande sombra sobre o governo, tornando-se referência do grande exército de órfãos que choram a sua ausência e bendizem a picardia e a malemolência com que ele lidava com as forças políticas que o seguiam.
Esse sim é que sabia lidar com os políticos. Nunca dizia não a ninguém.
Entre o palco e o bastidor, ele não resiste às luzes e à adulação servil dos aplausos. Quer ser aplaudido sempre em cena aberta, mesmo que seja para mostrar que a terceira mulher mais poderosa do mundo não passa disso: uma terceira.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 26/8/2011.