“Pobres, Tenham Mais Filhos”

O governo lulo-petista criou uma nova Bolsa. É a Bolsa “Pobres, Tenham Mais Filhos”.

É aquela tal coisa: quando a gente acha que já viu todas as imbecilidades possíveis e imagináveis, eles vêm com uma mais imbecil ainda.

Em vez de difundir entre os mais pobres, menos escolarizados, informações sobre como controlar a natalidade – uma das maneiras mais óbvias de impedir a perpetuação da situação de miséria dos mais desprivilegiados –, o governo oferece um dinheirinho extra a quem tiver prole grande.

Os fatos

Transcrevo trechos da notícia, dada por O Globo:

“Gestantes e mulheres em fase de amamentação terão direito a um benefício extra de R$ 32 mensais do Bolsa Família, a partir de novembro, anunciou nesta segunda-feira (dia 19/9) a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. A ministra informou ainda que o pagamento dos benefícios adicionais do Bolsa Família para filhos de até 15 anos – antes pagos para no máximo três filhos e ampliados para cinco – começou a ser feito nesta segunda-feira. (…)

O Ministério do Desenvolvimento Social está cruzando dados com o Ministério da Saúde para identificar as gestantes e nutrizes (mulheres em fase de amamentação) que serão atendidas. Já está definido que essa nova modalidade de benefício não poderá ultrapassar o teto de cinco benefícios variáveis por família. Assim, nos lares onde vivem cinco filhos ou mais com idade de até 15 anos, as gestantes e lactantes não serão contempladas.

Nas demais situações, elas receberão R$ 32 adicionais pelo período de nove meses. Após o nascimento do bebê, elas terão direito a mais seis meses de repasse extra, a contar do registro da criança no Cadastro Único – lista de pobres mantida pelo governo federal e atualizada pelas prefeituras. Ao todo, portanto, serão 15 meses de benefício extra.”

O governo argumenta: não é incentivo a ter mais filhos

Prossegue a notícia de O Globo:

“- Estamos muito seguros de que não existe nenhum indício de que o programa gera aumento de natalidade. Essas famílias são as mais vulneráveis e precisam de um atendimento mais efetivo do Estado – disse o secretário (o secretário nacional de Renda de Cidadania, Tiago Falcão).”

“No Brasil, em média, as famílias atendidas pelo programa têm 2,1 filhos. No Norte, são 2,4. No Rio, 2. O valor médio dos repasses este mês será de R$ 119. Famílias miseráveis com sete filhos de até 17 anos recebem o valor máximo de R$ 306.”

“Economistas e pesquisadores do Bolsa Família ouvidos pelo Globo dizem que a ampliação anunciada nesta segunda-feira tem o efeito positivo de levar mais recursos para uma fase essencial do desenvolvimento da criança, a primeira infância. Para alguns, o efeito negativo potencial, que seria o estímulo para que famílias pobres tenham mais filhos para receber o benefício, poderia vir apenas se houvesse aumento expressivo dos R$ 32.”

Professor da Escola de Economia da FGV-SP, André Portela fala de “aspectos positivos e potencialmente negativos” da ampliação:

“O positivo é que se trata do aumento de renda de um programa com boa focalização, que vai especificamente para famílias muito carentes. Sendo ampliado para, por exemplo, mulheres que amamentem, é um dinheiro a mais que vai para uma fase importante da vida da criança. Agora, o risco negativo potencial é se criar um incentivo ao aumento da natalidade, e isso poderia contribuir para a continuidade das condições de pobreza daquela família. No entanto, nenhum estudo feito até hoje apontou que o programa leve a aumento de fecundidade. Além disso, se o valor começasse a subir, poderia até passar a ser um atrativo e levar a esse estímulo, mas, como é hoje, é baixo para isso.”

Fala o sociólogo Simon Schwartzman, do conselho do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) e ex-presidente do IBGE:

“Há estudos que já mostraram que o programa diminuiria um pouco a carga de trabalho das mulheres beneficiárias, mas, no caso de gestantes e mulheres amamentando, se isso ocorrer, pode até ser visto como positivo. Mas não há pesquisa que tenha apontado maior número de filhos por causa do benefício. Se fosse um salário mínimo… Mas R$ 32 vão é dar uma folga para a família comprar um pão.’

Fala Marcel Guedes Leite, economista da PUC-SP, que já realizou diversos estudos sobre o Bolsa Família:

“Olha, R$ 32 não fazem ninguém engravidar, não vejo como incentivo. A população hoje é essencialmente urbana e ter um filho sai muito caro. Mesmo que sejam quatro ou cinco crianças recebendo o Bolsa, não vale a pena. Creio que o dinheiro faça com que a mulher se sinta mais segura na gravidez e amamentação, e que sirva para que o Estado tenha de assegurar o acesso ao pré-natal, por exemplo, que já é uma contrapartida do programa. Além disso, como o benefício é entregue à mãe, é mais provável que seja usado para melhorar a alimentação.

Uma imensa hipocrisia

Os doutos sociólogos que me perdoem, mas o que eles dizem é de uma hipocrisia absolutamente desmedida.

Para os realmente miseráveis, para os mais pobres dos lugares mais pobres do país – os grotões do Maranhão, de Alagoas, do semi-árido de todo o Nordeste –, R$ 32 de mão beijada, dados pela Tia Dilma, são dinheiro, sim.

Se “dá folga para a família comprar um pão”, então como não é um incentivo a ter mais filhos?

Como é que é possível que seja uma ajuda – anunciada sob fanfarra como uma extensão, ampliação, do dadivoso, maravilhoso programa Bolsa Família, junto ao novo programa Brasil Sem Miséria – e ao mesmo tempo não seja um incentivo para que os miseráveis tenham mais filhos?

Ou os R$ 32 por bebê existem, e fazem diferença, ou bem não existem.

Se existem, como é possível que o governo diga que servirão para ajudar na criação dos filhos já existentes, mas não para incentivar os miseráveis a ter mais filhos?

Parece a história do cachorro que era tão exigente que, servido de café com leite, bebia só o leite e deixava o café de lado.

***

É incentivo para que os miseráveis tenham mais filhos, sim.

As taxas de natalidade entre as classes mais desfavorecidas vêm caindo, sim, felizmente, ao longo das últimas décadas, como resultado da urbanização, da circulação maior de informação. Mas prosseguem altas exatamente nos piores bolsões de miséria – e é exatamente neles que estão as famílias que serão beneficiados com a Bolsa “Pobres, Tenham Mais Filhos”.

As famílias mais informadas, que não têm proles imensas, essas não precisam da esmola do governo. Essas já se cuidam.

***

Mesmo que a nova Bolsa não incentivasse os miseráveis a ter mais filhos – admitindo que isso pudesse ser verdade, só para efeito de argumentação –, ainda assim o sinal estaria errado.

O fato inconteste, absurdo, incrível, inacreditável, é que o governo lulo-petista vai na contramão do que seria o sensato, o óbvio, o claro como água da fonte: em vez de informar sobre contracepção, em vez de auxiliar os mais despossuídos e menos informados a ter menos filhos, oferece ajuda a quem tem muitos.

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É absurdo, incrível, inacreditável – mas tem lógica, ainda que uma lógica perversa, malsã.

As “esquerdas” brasileiras sempre foram contra o controle de natalidade. (Na China do Partido Único, tudo bem – mas a coerência nunca foi propriamente o forte das “esquerdas”.)

Tem que dividir as riquezas por todos – esse sempre foi o lema das “esquerdas”. Eles mesmos, é claro, fazem controle de natalidade – mas os pobres podem ter quantos filhos quiserem. A coerência nunca foi mesmo o forte deles.

Em relação ao controle de natalidade, as “esquerdas” estão bem próximas dos religiosos: são contra (embora eles mesmo o exerçam), são definitivamente contra.

O povo pode ter quantos filhos quiser. (Eles têm um ou dois, mas a coerência, ora, a coerência…)

As “esquerdas” pensam, sobre controle de natalidade, da mesma forma que os evangélicos e os religiosos mais fanáticos das variadas crenças. Aqui há uma coerência: são todos religiosos fanáticos.

Cegos não só à coerência, mas também à lógica óbvia de que uma das melhores maneiras de perpetuar a miséria é um casal pobre ter muitos filhos.

Ou talvez não seja cegueira, mas olho de lince.

Quanto maior for o número de abençoados pelas Bolsas do lulo-petismo, mais votos terá o lulo-petismo, agora que o PT e os seus partidos aliados têm mais votos entre os pobres, os não educados, os grotões, os bolsões miseráveis, do que nos centros urbanos mais desenvolvidos. Agora que é como a Arena dos milicos

Cegueira coisa nenhuma. É olho de lince. É a petralhada fazendo tudo para continuar mamando nas tetas dos nossos impostos até o ano de 3062 – ou bem mais que isso.

20 de setembro de 2011

3 Comentários para ““Pobres, Tenham Mais Filhos””

  1. Cadê o gado, digo, o “povo” brasileiro para se inteirar destas questões? Nenhum mísero comentário, fosse sobre o final da novela, haveriam dezenas.

    Enfim, o fato é que o Brasil ainda não está passando nem perto de iniciar processos para solução do seus inúmeros e imensos problemas.

    Péssimos governos têm se sucedido deixando como legado sistemas injustos e ineficientes.

    O atual “governo” legará aos filhos dos que hoje carregam o país nas costas com seus impostos, uma sociedade ainda mais injusta e violenta do que a atual, pois a expansão demográfica promovida atualmente nas classes paupérrimas, certamente que cobrará no futuro com brutalidade e violência o preço pelos erros cometidos hoje.

  2. Não há como acabar com a miséria, e consequentemente com a violência, se não houver controle de natalidade. O nosso país urge por políticas sociais que enfrentem esse problema a fim de solucioná-lo. Os governos adotam políticas repressivas para a criminalidade e assistencialistas para os pobres, enquanto que o mais adequado seria ações de bem estar social, promovendo a saúde, a educação, lazer e todas as formas de inclusão social possíveis, aliadas as formas de controle populacional, com intuito de diminuir o número de filhos das famí
    lias mais carentes.

  3. Deveriam retirar ou diminuir o bolsa família se a família aumentasse o numero de filhos e incentivar com aumento de renda pra mulher fazer laqueadura ou ate impor que daria o bolsa família pra mulher que assim o fizesse,o problema tem que ser solucionado na raiz .

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