Sobre a tragédia do Rio, igualar-se aos contrários, e Marina

Em cima da tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro neste início de abril, surgiram na internet diversas manifestações tentando responsabilizar as muitas dezenas de mortes aos governos municipal e estadual, do PMDB lulo-petista, e ao próprio governo federal.

É revoltante, indigno, calhorda.

Tão revoltante, indigno, calhorda, quanto atribuir as muitas dezenas de mortes ocorridas no verão 2009-2010 em São Paulo aos governos municipal e estadual, do DEM e do PSDB.

Não foram poucos os petralhas que usaram as tragédias das chuvas de verão em São Paulo para atacar Kassab e Serra, para responsabilizá-los pelas mortes.

É revoltante, indigno, calhorda.

É como acusar Bush pelo fato de o furacão Katrina ter existido.

Pode-se acusar Bush por seu governo ter demorado a reagir à tragédia provocada pelo Katrina, por Bush ter demorado a manifestar pesar pelas mortes provocadas pelo Katrina, assim como pode-se lembrar que Lula reagiu mais depressa ao terremoto que devastou o Chile neste mesmo início de 2010 do que reagiu às mortes em Angra dos Reis na virada do ano.

Mas tentar associar Lula e Cabral e Paes à tragédia das últimas horas no Rio é revoltante, indigno, calhorda. Tanto quanto o que os petralhas fizeram ao acusar Serra e Kassab pelas mortes ocorridas em São Paulo durante o verão.

As tragédias provocadas por causas climáticas não são partidárias. Transformar a dor da perda de vidas, de casas, em arma de jogo partidário é mesquinho, é grotesco, é vomitativo.

Igualar-se ao pior, ao mesquinho, ao tacanho, fazer o mesmo jogo do adversário, é tão imoral quanto ir à TV numa “entrevista” falsa para dizer que ah, gente, caixa 2 todo mundo faz, todo mundo sempre fez – como fez Lula, orientado pelo criminalista Bastos, na tentativa de disfarçar o que realmente era o mensalão.

“Enchente não é estadual nem municipal”, costumava dizer Mario Covas. Que falta nos faz Mario Covas.  

Usar tragédia para ganho eleitoral é rasteiro. Tão rasteiro quanto passar décadas chamando Sarney, Jáder, Collor de ladrões e depois posar ao lado deles, sorridente. Tão falta de caráter quanto, o cadáver do preso político ainda quente, posar e tirar fotos, qual tiete adolescente, ao lado dos assassinos.

Como bem disse o filósofo greco-cearense José Genoino, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

*** 

Nesta semana da tragédia que matou cerca de cem pessoas no Rio de Janeiro – uma tragédia apartidária, em que deveríamos todos nos comover pelos mortos e por suas famílias –, houve, no entanto, algo de se lavar a alma.

É emocionante ver Marina Silva usar a educação como uma das bases da sua campanha à presidência da República.

A propaganda do PV insiste em dizer que Marina Silva aprendeu a ler aos 16 anos – e, de lá para cá, jamais parou de estudar.

A própria Marina aparece na propaganda defendendo que o país se dedique seriamente à educação.

Dá emoção, dá alegria, dá esperança. Depois de décadas ouvindo o sujeito elogiar a falta de educação, dar o mau exemplo aos jovens, insistindo em que uma pessoa que não se educou pode chegar à presidência – um sujeito que passou 30 anos sem fazer nada a não ser freqüentar palanques, com tempo de sobra para estudar mas com preguiça –, é uma maravilha ver Marina Silva apresentando-se ao país como o anti-Lula.

O imbecil uma vez disse, para se vangloriar, que a mãe dele nasceu analfabeta.

Nascer pobre não é valor.

Não estudar jamais e se vangloriar disso é o pior exemplo que se pode dar.

Usar as mesmas armas que o adversário, transformar a dor da tragédia em arma eleitoral, é rebaixar-se ao nível dele.         

7 de abril de 2010

Um comentário para “Sobre a tragédia do Rio, igualar-se aos contrários, e Marina”

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