Muita gente boa da nossa música popular nasceu em 1910. Deveríamos estar comemorando o centenário de nascimento de Cristóvão Alencar, Copinha, Claudionor Cruz, Custódio Mesquita, Vadico, Luís Barbosa, Haroldo Lobo, Adoniran Barbosa, Leny Eversong, Manezinho Araújo, Nelson Cavaquinho, Nássara, Jorge Veiga e Noel Rosa, este no dia 11 de dezembro. Choveu na roseira musical naquele ano. Meus olhos brilham diante da riqueza que, ano a ano, os músicos, cantores e compositores vêm depositando no altar de nossa música.
Imaginar que, em apenas seis anos, Noel Rosa tenha criado canções que soam até hoje nossas contemporâneas, ele um rapaz brasileiro que trabalhou nos anos vinte do século passado, é extraordinário. Seu senso crítico, seu humor, seu olhar brasileiro para os sentimentos do nosso povo, seu estilo moderno e eterno, tudo isso supera as barreiras do tempo e da moda eventual. Suas letras, pela argúcia e simplicidade, já incorporavam as conquistas que os modernistas de então batalhavam para introduzir em nossa cultura. Como seus textos diferem do palavreado parnasiano que inundava a linguagem de alguns autores da época.
A música é a trilha sonora de nossas vidas. A cada fato ocorrido com alguém geralmente corresponde uma canção que tocou naquele momento. Pode ser o primeiro amor, o primeiro beijo, não importa a qualidade do que se ouvia. Lembrada junto com o acontecimento feliz, qualquer uma se torna obra-prima.
Quem já não passou pela experiência de, viajando ao exterior, escutar um som brasileiro, uma canção que nos enche de orgulho e nos traz de volta à terra querida? Por isso é natural que se festeje esse pessoal que, cantando, espalha alegria para todas as idades, todos os cantos
Nessa última semana, além do centenário do nascimento de Noel Rosa, em 11 de dezembro, outras datas foram, ou deveriam ser, celebradas. No mundo e no Brasil, se rememoraran os tiros que mataram John Lennon, há 30 anos. Mais que a violência, as canções de amor e paz, rebeldia e juventude, é que comandaram os noticiários de todos os veículos de comunicação. Os mínimos detalhes da tragédia e a enorme força das músicas dos Beatles ocuparam todos os espaços. Cantou-se e chorou-se mundo a fora. Da mesma forma que, uma semana antes, em nosso quintal, multidões cantaram junto com Paul, o outro elo da beatlemania, nos estádios de futebol. Lembranças de um bom tempo que permanece no canto do povo de todos os lugares.
No entanto, no mesmo dia 8 de dezembro, foi aniversário de morte de um outro compositor, um enorme autor brasileiro. Procurei nos jornais, liguei a televisão, o rádio, o computador. Só encontrei silêncio. Quase ninguém falou nos 16 anos da morte de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em dezembro de 2010.