Os 80 anos do poeta

Setembro chega com o aniversário do poeta Ferreira Gullar, nascido José Ribamar como tanta gente do Maranhão. E o presente quem nos dá é ele, com o lançamento de seu novo livro de poesia, Em alguma parte alguma.

Contemplando a vida e a obra de Gullar, eu busco encontrar a hora e o lugar em que me encontrei e me deslumbrei com o fazer poético. Quase menino ainda, me vi em um colégio público, ao lado de colegas e professores que me abriram os olhos para um novo mundo. Entre literatura, música, teatro e cinema, a paixão maior, de início, foi com os poetas. Fui conhecendo, em curto espaço, Bandeira, Drummond, Cabral, Pessoa e Lorca.

Abertas as avenidas dos versos, mergulhei fundo. E quem me ajudou mais a alargar a sensibilidade poética e existencial foi o amado Carlos. Lia em voz alta ou silenciosamente, declamava em casa ou na rua. Fui e continuo aprendiz. Que sensação boa descobrir antigos e novos inventores, viajar com eles através de sua imaginação, gozar a satisfação de compartilhar seus momentos de criação. E eu não entro em Flaflu de poetas. Sejam racionais e secos ou emocionais e discursivos, quem é bom é bom e não escolho um lado ou maneira de poetar. “ Poesia é meu pão e a vida, meu juiz.”            

Ferreira Gullar é bom desde sempre, e eu gosto dele desde que li a “Luta Corporal”. Acompanho, aqui do alto das montanhas, sua trajetória de homem e artista. Mas em vez de falar aqui dele e de seus versos, prefiro dar-lhe a palavra. Em entrevista a um jornal carioca, ele se traduziu de uma forma exata. Penso que a maneira mais justa de homenageá-lo é transcrevendo o que ele disse.

“Minha poesia, hoje, nasce do espanto. Poesia não é alguma coisa que se decide fazer. A poesia parte de algo que te surpreende, que te espanta e que o leva a escrever o poema. A poesia para mim é uma aventura em que o acaso e o inesperado comandam o processo. Através dos versos, faço uma descoberta da realidade e do mundo.”

“Com o poema, eu levo às pessoas algo que só eu posso lhes dar. O poeta só traz alguma coisa quando a descobre, ou a inventa. Não acredito que a literatura revela a realidade, acho que ela inventa a realidade. O cheiro do jasmim é o cheiro do jasmim, mas é intraduzível. O poema faz algo que representa aquilo mas não é aquilo. Um mistério que tem algo a ver com

a vida real, mas não é a vida real.” Eu tenho prazer em viver a aventura poética. Ninguém me manda fazer isso, eu faço porque quero. Mas não escrevo quando quero, senão, não é poesia.

Quando entro na poesia, sinto um grande prazer. Sinto um grande prazer de viver essa experiência extraordinária de revelação. Estou fazendo algo que pode ser bonito, que pode ser comovente.”

Muitos vivas ao poeta Ferreira Gullar. Viva a poesia.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas

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