Em 1976 quase fui vice-prefeito de Americana – bons tempos que me vieram à memória agora nesta reta final de campanha. Nessa época, aprendi sobre política, campanhas, mas acho que principalmente aprendi a respeitar, de verdade, o eleitor.
Éramos jovens engajados na luta pela redemocratização. Liderados pelo Ralph Biasi, fomos até Santos em 1970 pedir ajuda a Mario Covas, recentemente cassado, para que tivéssemos o diretório do MDB em Americana, extinto desde 1969 com a “virada de casaco” para a Arena do prefeito Najar logo no primeiro dia de mandato, eleito que foi pelo MDB. Conseguimos a legenda, e o Ralph foi eleito prefeito em 1972. Foi nesse ano e fruto desse mesmo trabalho que o Macris entrou na cena política eleito vereador. Em 1974 escolhemos Macris nosso candidato a deputado estadual, e novo êxito. E que brilhante carreira a dele, passados tantos mandatos. Tenho orgulho por ter participado do seu inicio.
Em 1976, ano eleitoral para a sucessão na prefeitura, nosso candidato era o Marquinho (Marcos) Biasi, até hoje meu amigo muito querido, e saí da convenção como seu vice. Tínhamos tudo para ganhar, até que cometemos o primeiro erro: aceitamos compor com nosso adversário político local, o Sampaio, com quem sustentamos grandes embates públicos, e então cedemos a ele a vaga de candidato a vice.
O eleitorado de Americana não nos perdoou. Se ele não servia antes, passou a servir agora? E fomos caindo, pouco a pouco, enquanto eu aprendia que o oportunismo político não vale a pena e que o eleitor pode, e vai, mostrar que é muito mais sábio e esperto que aqueles que acomodam suas convicções para pedir votos.
No ultimo dia de campanha, tivemos a brilhante idéia de pegar o que havia restado de nosso material e, numa carreata, sair jogando a papelada pelas ruas, numa demonstração de clima de vitória mas, na verdade, numa demonstração de desperdício e desconsideração com os eleitores.
Se aprendi realmente algo foi que o eleitor, por mais humilde, vota com sua consciência e com as informações que recebe; ele não vende seu voto nem por cesta básica nem para o oportunismo de momento. Se não conseguimos chegar a ele é culpa nossa; ele vai votar com as informações que tem. E se esbanjamos dinheiro ou oportunismo, essa é a mensagem que ele receberá de nós.
Uma boa campanha começa por crer, ter fé no eleitor e na sua capacidade de discernir a verdade da mentira, a boa intenção do oportunismo, lições, aliás, que vivi, por invejável privilégio, nas andanças ao lado de Mario Covas. Eu me sentia pequeno diante de sua fé, diante de sua crença no povo e diante de sua determinação em pautar suas ações pela convicção. Foi dele que ouvi o cuidado que se deve ter num embate eleitoral, porque depois será preciso governar com coerência. Não adianta ganhar com as mãos amarradas.
Enfim, são lembranças que passeiam agora por mim, sem a pretensão de que sirvam de lição para quem quer que seja. Talvez minha única pretensão seja a de que, lido aqui por algum jovem, este reforce sua crença na democracia e no voto, e trabalhe sempre para que o exercício da política nunca perca o seu norte e sua razão de ser: o povo anônimo, trabalhador, honesto e solidário, que precisa de lideres sérios, trabalhadores, honestos e solidários.
Outubro de 2010
A saborosa reminiscência do nosso Malufe, com “e”, reforça esse ensinamento da história. O eleitor não erra. Ele decide com as informações que tem. Ilumina a força da coerência, personificada em Covas, que apoiou Lula no 2º turno contra Collor, não ficou “independente”, reforçando o campo mais forte, porque em política não existe neutralidade. Foi agredido, literalmente, pelos petistas depois, mas nunca renegou sua posição. Espero que muitos jovens o leiam…
Seu artigo, de certa forma me lavou a alma hoje, dia terrível em que vi um presidente da República estimular a agressão e o ódio, colocar combustível em uma das mais despolizadas campanhas eleitorais que este país já assistiu.
Pode-se ganhar ou perder, mas estaremos sempre do lado do bem se continuarmos a “ter fé no eleitor e na sua capacidade de discernir a verdade da mentira, a boa intenção do oportunismo”.
O tal do Mario Covas deixou um legado incrível, e, não me canso de reclamar: faz uma falta danada.
Oportuno o texto e muito coerente com o momento que atravessamos. Há uma inversão de valores no Brasil em que as vítimas são hostilizadas. O episódio envolvendo o candidato do PSDB à presidência mostrou isso. As instituições são jogadas em segundo plano.
Concordo com o senhor e quero continuar acreditando que o eleitor tem discernimento para saber o que é melhor.
Rosana Delellis enviou para o “Dê Sua Opinião” este comentário:
im é com fé no povo, vontade de trabalhar e com a verdade que conseguimos redemocratizar esse país. Foram líderanças como Ulisses, Montoro, Mario Covas e tantos outros….e parece que nessas eleições todos esqueceram disso. Parabéns Malufe e obrigada por nos lembrar desses valores.
bjs
Rosana Delellis