Na segunda-feira, no meio de um feriadão, quando muita gente foi para o litoral ou para o interior, medito diante de um céu nublado que pode, ou não, trazer chuva. O que fazer nessa manhã, enquanto aguardo a hora de buscar a neta e passar um dia feliz com ela? Ler um poema de Ferreira Gullar seria uma solução. Ou plantar a pimenta seca que espera por terra boa que a acolha na lua nova de primavera. Sem esquecer de ir ao sacolão comprar frutas para o café da manhã do dia das crianças e da padroeira do Brasil.
Penso como é engraçado essa história da Aparecida. A mesma história é contada por vários povos, em vários países. A idéia de pescadores que, em busca de peixes, pescam a imagem da santa e, em seguida, todas as redes jogadas voltam com uma grande quantidade de alimento, batia firme no sentimento do menino que eu era. Essa união entre história do povo simples ligada à crença e a fé é muito forte e explica o vigor da religião no coração das multidões.
Tenho livros para ler e música para ouvir. Não por obrigação, mas por satisfação. Tocarei essa coleção completa do canto de Dolores Duran ou me embalarei na Floresta Amazônica de Villa Lobos? Ou ouvirei novamente os magníficos CDs de Jerusalém, em homenagem à paz que merecemos, embora a guerra esteja sempre aí, através dos tempos, ontem e hoje nos dizendo da estupidez humana? Miró, não o pintor, o cão negro que nos acompanha, está quieto na esquina do quintal, alimentado e bebido. Ele me olha com olhar pidão, não sei se quer carinho ou música, pois sempre que abro a janela da sala, uma das carícias ele recebe. Prefere as duas coisas e é o que faço.
O dia já vai ao meio e eu sou esse simples brasileiro que, quanto mais o tempo passa, mais pára para pensar. Viram que coisa mais estranha essa confusão em que os filólogos nos puseram? “Eu paro para pensar” é normal. Mas “ele para para pensar” fica estranho. Então eu penso enquanto o mundo gira, e esqueço que existe sobre nossas cabeças um estranho acordo ortográfico que os portugueses, sensatos, não querem seguir.
Medito sobre o que dizem que está acontecendo na internet, esse veículo ainda sem lei, em que o anonimato, a pirataria e a covardia vigoram. Não sei exatamente o que é, por não ser navegador nem deste e nem de outros mares. Sou apenas um observador, que usa a tecnologia mas não quer ser usado por ela. Sou comedido. Mas confesso que considero um desrespeito à minha inteligência o fato de me enviarem mensagens visando a influenciar o meu voto de cidadão. Por favor, eu peço respeito. Eu me informo e penso com a minha cabeça.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas.
Aproveito para lembrar que este site não segue o novo acordo ortográfico. Aqui, Fernando Brant, ou qualquer outra pessoa, pára para pensar, e não para para pensar.
Sérgio Vaz