Gosto de ficar em casa. Trabalho, leio, escrevo. E descanso, recebo amigos. Tenho minhas ocupações externas, principalmente fora de minha cidade. Mas o meu lugar é a minha casa, que construí aos poucos, longe da confusão do centro e da zona sul. Fui em busca da tranqüilidade, mas a cidade e seus ruídos, a metrópole e seu crescimento não planejado, andaram atrás de mim.
E eu não tenho nenhuma disposição, por mais que defenda a preservação ambiental, de viver no meio do mato. Cresci entre pessoas e ruas, me tornei um urbano.
Mas não é isso que me incomoda ao ponto de me irritar. Estou conformado com as avenidas e obras públicas que retiraram muito do sossego do meu bairro. Curvo-me diante do progresso inevitável. O que eu não suporto é o ataque diário que recebo via telefone. São os malditos operadores de telemarketing, que se disfarçam agora sob a denominação de consultores.
O desrespeito à privacidade não tem limite. Nunca quis que meu nome e telefone constassem de nenhuma lista. Houve tempo em que se pagava uma taxa para preservar o anonimato. E eu sempre paguei. Telefone, por ser uma invasão do mundo exterior ao seu domicílio, deve ser para tratar de coisa séria ou de conversas de amigos e familiares.
Mas nossos dados pessoais rolam por aí e, a qualquer hora do dia ou da noite, a qualquer dia, principalmente aos sábados e domingos pela manhã, a agressão acontece.
Será que as telefônicas de aparelhos fixos querem acabar com esse seu negócio? Pois elas fazem parte desse complô que inferniza a vida dos cidadãos. E esses bancos, empresas de cartões de crédito e firmas as mais variadas que apostam em vender de forma tão estúpida os seus produtos?
Canso de dizer: não quero nada, não tenho intenção de mudar nada, estou satisfeito com o que tenho. O que fazer para calar essa corja, se não adianta eu explicar para um se, horas depois, outro indivíduo da mesma espécie e da mesma companhia volta a insistir?
Já me disseram que uma solução seria pedir que esperem um momento e deixar o fone fora do gancho por um bom tempo, até que eles sintam que aquele não é um bom destinatário de suas mensagens inoportunas. Pode ser. Mas eu exijo do poder público que cuide dos cidadãos, nós que o financiamos. O consumidor precisa ser respeitado. Em São Paulo existe uma lei que abordou bem o assunto: quem não quer ser incomodado, por esses interlocutores indesejados, cadastra seu nome em uma lista dos que não querem ser perturbados. As empresas não podem entrar em contato com quem se cadastrou, sob pena de punição. Bom exemplo para todas as assembléias legislativas, os governos e o Congresso.
Fora o telemarketing. Viva a paz.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas