A coreografia de Teerã

Lula está em lua de mel com Lula e pediu que alguém o ajudasse a espetar um alfinete para desinflar seu ego hipertrofiado.

A vaidosa metáfora veio logo depois da coreografia de Teerã, que produziu para a imprensa mundial a foto-op em que ele e o premiê turco Tayip Erdogan erguem os braços do chefe civil da ditadura teocrática do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Os personagens comemoravam a assinatura de um acordo que garantia o envio ao exterior, pelo Irã, de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido para receber em troca, no prazo de um ano, 120 kg de combustível adequado para o uso em projetos nucleares para fins medicinais.

Algumas horas depois da assinatura do acordo, porém, o Irã anunciava que continuaria enriquecendo o seu próprio urânio e não fazia nenhuma referência a qualquer garantia de que permitiria inspeções da AIEA -Agência Internacional de Energia Atômica – em suas instalações nucleares. Sabe-se que nos nove meses que separam o acordo anterior (que não cumpriu) do atual, o Irã reforçou o seu estoque de urânio. Se há nove meses os 1.200 quilos representavam 68% do estoque total, agora eles são apenas 52%. Ou seja, um pouco menos da metade do estoque ficaria fora do acordo e fora do alcance de qualquer tipo de inspeção.

O Brasil foi apanhado de surpresa pelo anúncio e Lula guardou pelo menos 48 horas de silêncio obsequioso antes de comentar o acordo.

No dia seguinte, Hillary Clinton anunciava que os EUA tinham o apoio dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para propor sanções ao Irã.

A dupla alfinetada parece não ter sido suficiente para desinflar o ego do presidente, embora possa terminar sendo útil para relativizar não só a sua ego trip como também os delírios de grandeza que andam povoando os corredores do Itamaraty. Se é justo que um país emergente tente dar à sua diplomacia o status correspondente à importância que vai adquirindo no tabuleiro do jogo internacional, procurando aumentar a sua influência nesse jogo, não é muito adequado que faça isso de maneira voluntarista e ginasianamente terceiro-mundista como vem fazendo.

Ao insistir em negar legitimidade ao governo eleito de Honduras, ao mesmo tempo em que assiste passivamente, sem um mísero gesto de reprovação, por simbólico que seja, à perseguição do governo cubano aos seus dissidentes, e ao abraçar e erguer triunfalmente os braços de um representante de uma ditadura teocrática que persegue homossexuais, mulheres e opositores com a mesma desenvoltura com que nega a existência do Holocausto e anuncia a sua disposição de varrer Israel do mapa, o Brasil não está entrando no topo da comunidade internacional pela porta da frente.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat

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