a gente foi-se juntando aos poucos;
peludos, grunhidos selvagens.
entre berros e pauladas
fomos entendendo o poder da união.
como num milagre
pequenos grupos se organizaram
(que passo para o humano!).
custou-nos apenas pequena transcendência
y un poco de muerte.
depois
os reis hoje antigos
focalizaram sobre si decisões e posses,
distribuindo dores e sobras
para o resto das multidões cabisbaixas.
sacerdotes ensinavam como crescer
(que passo para o humano!),
navios, medicina, escrita.
custou-nos apenas alguma obediência
y un poco de muerte.
depois,
ah! foi com os gregos que o humano
divinizou-se!
o teatro, a história, a filosofia!
a arquitetura e a estatuária!
que soberbo povo enfeitiçado
por verdade e beleza!
custou-nos tão pouco, afinal!
só deflorar a poesia
(que passo para o humano!)
y un poco de muerte.
e o que nos ensinaram os romanos?
ensinaram a organizar o grandioso.
como explicar tanta civilização?,
sem a repressão eficiente do Direito!
(que passo! que passo!)
tábuas legisladoras saindo por todos os caminhos,
y un poco de muerte.
chegaram-se de manso
os cristãos
com tanta doçura
y un poco de muerte.
os sábios libertaram a ciência, a seguir,
transformando, numa vertigem voraz,
a face das coisas do homem.
custou-nos transformadora renovação renascentista
y un poco de muerte.
mas eis que a máquina estala em línguas de fogo que ligam
e em garras de ferro que se engrenam corretamente!
foi uma revolução poderosa, aquela,
(mas que passo para o humano!
que grande passo de magia mecânica!)
é verdade que as chaminés cospem venenos
mas é tão grande o planeta!
e quão confortável, o resultado dos gritos das máquinas!
foi só organizar os trabalhadores
y un poco de muerte.
e hoje, hoje, finalmente,
nós que nos dizemos civilizados,
nós capitalistas, nós socialistas,
e nós nem istas nem aquilo,
continuamos nossa gloriosa trajetória
em direção ao nada.
atraindo futuros ao um só passado.
pisamos a lua, que passo desumano!
enchemos o espaço com vigias explosivos,
como é pequeno o planeta!
mas continuamos a marcha de esplendor,
pisando rastilhos, passeando sobre minas, brincando sobre explosivos.
defendendo essas idéias que garantem a civilização
com verdades discutíveis, discutidas, indiscutíveis,
y un poco de muerte.
Trecho da obra de ficção inédita A Espécie Humana, de 2003
E hoje, Jorge Teles, o homem segue o conselho de São Juan de la Cruz: “Bajo la cabeza y sigo adelante…”.
A isso chegamos.