Favre e o sonho

 A grande verdade é que nós, os seres humanos, fomos feitos para a fábula. Poucos conseguem se inserir nela, alcançá-la, porém todos buscam, e a prova mais evidente disso é o imenso sucesso das dezenas de loterias que a Caixa Econômica Federal explora. Para mim, o retrato de uma das fábulas mais, digamos, fabulosas dos tempos modernos é o filme My Fair Lady, com Audrey Hepburn e Rex Harrison. A saga da moça amplamente discriminada na sua condição de pobre encantou a quantos viram a fita. E afinal no momento em que o bem posto professor de boa estampa rasteja pela jovem, todas as mulheres da platéia se sentem magnetizadas por vê-la entrar no mundo da fantasia; os homens torcem na esperança de que, algum dia, poderão achar o caminho.

Falo dessas breves coisas apenas para exalar não meu espanto, mas minha admiração por saber que há em São Paulo um camarada que chegou lá. Em situação inversa à de Eliza Doolittle, é claro – um Pigmalião inserido pela Galatéia. E que por isso se, de um lado, vem sendo discriminado por parte da imprensa, por outro tem fãs de carteirinha como eu, que vêem nele a realização do ideal de todos os homens do mundo.

Minha solidariedade a Luis Favre não é apenas por ele ser hoje (o texto é de 2003) o “primeiro damo” de São Paulo, agüentando a carga de inveja que isso acarreta. Tornou-se o eleito por merecimento, benzido pela persistência, uma vez que no seu lindo casório numa chácara perto de Campinas exercitou, pela quinta vez, seu afã de entrar, pela porta da frente, com as mãos nas mãos de uma bela mulher, no fascinante universo da fábula. E com que competência, amigos, com que competência! Afinal, conquistou não apenas a dama mais poderosa da maior e mais rica cidade brasileira, como fez a nubente transpirar de felicidade, colorida e linda até nas fotos em preto e branco. O amor de Marta Suplicy é um símbolo e, mais do que isso, uma perfumada chuva de esperança. Ela hoje tem nos olhos as luzes meigas, diáfanas, etéreas, maravilhosamente presentes em certas manhãs. E os luares que certamente esparge nas noites são cravejados com belas e fulgurantes estrelas. Diamantes. A prefeita paulistana é a tradução cintilante dos puríssimos diamantes azuis.

Ora, amigos, ao conseguir isso, ou se tornar cúmplice de tal cometimento, monsieur Favre mostra para todos os homens os caminhos do possível. Na fábula em que ele navega com a vela a todo pano, teve como padrinho de casamento o próprio presidente da República, foi abraçado e beijado por ministras, ministros, milionários, intelectuais e agora, além da esposa lindíssima, ainda detém, num país onde o desemprego anda pelos 13 por cento da população, um cargo com o impressionante salário de R$ 20 mil. Dado a ele por ordem expressa do chefe da Nação. Dizem as más línguas que sua função será não fazer nada. Deslavada intriga, pois tenho certeza que trabalhará como um camelo. Ou, tal qual diria a veterana socialite Carmem Mayrink Veiga, “como uma negra…”

É por isso que fico francamente irritado quando leio notas maldosas em colunas de jornais dando agulhadinhas em nosso personagem. Ainda ontem, revendo as fotos do belíssimo casamento, tornei a repetir a mim mesmo que milhões de brasileiros gostariam de ser Luis Favre. Inclusive eu…

          Esta crônica foi originalmente publicada no Correio Popular

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