Mãe e filho entram no táxi:
— Você leva a gente pra Vila Mariana, por favor?
— Qual rua? – pergunta o motorista, tomando a direção do bairro.
— Sabe ali na caixa d’água, perto da Estação Ana Rosa?
— A senhora sabe a rua?
— Sei, claro, já fui lá não sei quantas vezes. Pode ir seguindo pra lá que me lembro, daqui a pouquinho me lembro.
— Você não tem o endereço aí na agenda, mãe?
— Claro, filho, sempre tive, vou olhar.
— Olhou? Achou, mãe?
— Ai, filho, você acredita que sumiu? Não consigo encontrar. Será que ficou na agenda do ano passado?
— Vocês vão aonde? Médico, dentista, escola? – pergunta o motorista, desanimado.
— Médico.
— Alguma clínica? Quem sabe, eu conheço?
— Não, não. Lá, não tem nada escrito do lado de fora. É uma casa de dois andares, branca, janelas azuis, logo no princípio da rua.
— Antes, ou depois da caixa d’água?
— Antes – garante a mãe.
— Depois, tenho certeza, mãe! – garante o filho, seis, sete anos.
— Ah, acho que me lembrei! Não será a Rua França Pinto? Existe essa rua, na Vila Mariana, não existe? – A mãe se enche de esperança.
— Existe, e é essa aqui! Posso subir? – pergunta o motorista, animando-se.
— Poder, pode, mas, se essa é a Rua França Pinto, a que queremos é outra. Essa sobe, a outra descia, só descia.
— Mãe! Tinha um café na esquina, lembra? Um dia, quando a gente foi de metrô, você tomou, disse que estava uma delícia, lembra?
— Lembro, filho, e bem que eu queria tomar outro agora, mas onde? Lá era esquina com quê?
— Vou pra caixa d’água – diz o motorista.
Depois de esquinas com postos de gasolina, oficinas mecânicas, lojas, padarias, pizzarias, finalmente um café. O café.
— É aqui! – gritam mãe e filho.
O motorista, certo de que Deus existe e é paulistano, em silêncio, como se estivesse calmo, desce a rua devagar, reparando em cada casa.
A que eles buscam é branca, janelas azuis.
A que encontram, dois andares, logo no início da rua, é bege, janelas marrons recém-pintadas.
— A culpa não é minha – diz a mãe, abrindo a porta do táxi. – Como é que os médicos mudam a cor dos consultórios, assim, sem avisar os pacientes?
As crônicas escritas por Vivina de Assis Viana para o Estado de Minas, entre 1990 e 2000, estão sendo republicadas pelo site primeiroprograma.com.br, graças a um trabalho de garimpo feito por Leonel Prata, publicitário, jornalista, editor, roteirista e escritor, um dos autores do livro Damas de Ouro & Valetes Espada (MGuarnieri Editorial). Com a autorização de Vivina e de Leonel, estou aproveitando o trabalho dele e republicando também aqui os textos.