Vivemos no melhor dos mundos. Nunca estivemos tão bem. É o que nos comprovam as notícias dos últimos dias:
* Foi demitido o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, funcionário de carreira da Caixa Econômica, sem ligação partidária. Nos últimos meses, segundo amigos dele ouvidos pelo Globo, Custódio vinha reclamando de que sua gestão era alvo constante de sabotagem interna e vista como “foco de resistência às negociatas políticas”. Para o lugar dele, faltando dois meses para as eleições, vai David José Mattos, apadrinhado pelo PMDB do Distrito Federal e ex-secretário de Joaquim Roriz, aquela fortaleza moral, aquele sujeito probo; também trabalhou com José Roberto Arruda, o do mensalão do DEM.
* A Caixa Econômica Federal emprestou R$ 5,6 bilhões para a Petrobras, no período de dois anos. A empresa estatal que serve para a propaganda dos “feitos” do governo Lula (e para financiar artistas já consagrados simpáticos ao lulo-petismo, como Wagner Tiso, por exemplo) deve à Caixa quase três vezes o total da carteira de aplicações em saneamento básico. De novo: quase três vezes do que o investido em saneamento básico.
* No governo Lula, o BNDES já botou R$ 18,5 bilhões em empréstimos e participações societárias no setor de frigoríficos. Se algum deles falir, nós, contribuintes, pagamos a conta. Se houver lucro, nós, contribuintes, não veremos um tostão. Os números foram levantados pelo Estadão junto ao BNDES.
* Às vésperas das eleições, o governo federal abre os cofres. No primeiro semestre deste ano, os repasses de verbas federais aos municípios cresceram 238% em relação ao mesmo período de 2009, num total de R$ 8,1 bilhões.
* Em junho, o país teve o maior déficit nas contas externas em 63 anos, desde 1947, quando começou a série histórica – um rombo de US$ 5,18 bilhões. O déficit acumulado no primeiro semestre do ano é recorde, US$ 23,762 bilhões, mais que o triplo do acumulado no mesmo período de 2009, e praticamente igual ao de todo o ano passado, US$ 24,3 bilhões. Os números são do próprio Banco Central.
* Dos 13 aeroportos que passarão por obras em 12 cidades-sede até a Copa de 2014, quatro não têm sequer projeto pronto. Sete estão com o início das obras programado para entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2012, a pouco mais de um ano da Copa das Confederações. Os números são da própria Infraero, levantados pelo Estadão.
* Para abrir uma empresa no Brasil, é preciso enfrentar de seis a oito etapas e pagar até 16 taxas, a um custo médio de R$ 2.038 – ante um gasto médio de R$ 672 nos principais concorrentes do país, China, Índia e Rússia. Os dados são de um estudo da Firjan.
* Se uma empresa brasileira quiser exportar, terá que responder a 935 informações. São 14 os ministérios que atuam nos portos, e eles exigem dos navios que embarcam e desembarcam no país uma média de 112 documentos.
* O Brasil tem o terceiro pior nível de desigualdade de renda do mundo, empatado com o Equador, segundo os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Vivemos no melhor dos mundos. Nunca estivemos tão bem. É como dizia o Premê:
Aqui não tem terremoto,
Aqui não tem revolução.
É um país abençoado
Onde todo mundo mete a mão.
Brasil, potência de nêutrons,
35 watts de explosão.
Ilha de paz e prosperidade
Num mundo conturbado e sem razão.
O que pode consolar um pouco é que, neste mundo conturbado e sem razão, estamos do lado de Cuba, Irã, Líbia, Coréia do Norte, Venezuela.
29 de julho de 2010
Três registros.
Não achei no YouTube a gravação maravilhosa da canção “Bem Brasil”, do disco do Premê de 1985, o terceiro do conjunto, com uma bela e insuspeitada participação de Caetano Veloso. (A autoria da música é creditada ao conjunto, então formado por Wandi – Wanderley Doratiotto -, Mário Manga, Claus Petersen, Marcelo Galbertti, Osvaldo Luiz e A.C. Dal Farra.)
Como não estava lá, criei um clipzinho para a música. Não pedi autorização para o povo do Premê, nem para Caetano. Não sei se algum deles poderá ficar bravo, e pedir a exclusão do clip. Por enquanto, está lá.
A ótima idéia de usar “Bem Brasil” aqui não é minha – é de Mary Zaidan. Padeço da síndrome que Nelson Rodrigues atribuía a Dias Gomes: não consigo ser o melhor texto sequer do meu quarto.
Tendo gente sem medo de falar a verdade e gente disposta a encarar de frente. Nem tudo está perdido. Fora Lua e Dilma jamais!
A única vantagem de enfrentar-se um presidente ruim e seu governo idem é que nenhum conseguirá ser pior!