A última flor do Lácio

A um gabinete presidencial, como se sabe, chegam muitas cartas. Nestes tempos petistas a coisa não é diferente. E como ocorre em qualquer administração, as mensagens dificilmente sequer roçam as mãos do chefe do governo – há uma equipe de assessores que faz a triagem e responde o que é para responder.Aconteceu, porém, que dia destes uma singela cartinha, postada em São Carlos do Pinhal, despencou sobre a mesa do Lula. Sabe-se lá por que cargas d’água ele, que nunca leu nem o Almanaque do Biotônico Fontoura, quanto mais Olavo Bilac, abriu a mensagem. Onde estava escrito o seguinte: “Gostaria imensamente de saber por que Vossa Excelência não cultiva a última flor do Lácio, inculta e bela”. Ele então apertou um botão e logo plantou-se à sua frente a ministra-chefe da Casa Civil, Dra. Dilma Roussef.

– A companheira acaso sabe – o presidente perguntou – se há em Brasília a flor do Lácio?

Primeiro ela pensou um pouco. Depois respondeu:

– Vou fazer uma investigação. Logo lhe comunico.

Na realidade a própria ministra possuía alguns livros sobre jardinagem. Como não encontrou nada, ligou para uma amiga:

– Na sua casa, no seu jardim, existe a flor do Lácio?

– Olha, pra te dizer a verdade nós temos girassol, rosas, hibiscos até agapanto. Mas essa flor do Lácio não temos não.

Foi então que Dra. Dilma resolveu deixar a coisa de lado, certa de que o presidente esqueceria. Só que ele cobrou.

– Já comecei as minhas consultas, companheiro presidente, mas até agora nada.

– Sabe, companheira Dilma?, acho que a senhora terá que consultar a Embrapa.

– Perfeito, esse pessoal da Embrapa sabe tudo sobre agricultura.

Daí um assessor especial foi mandado à sede do organismo. Onde atirou-se sobre o primeiro agrônomo que encontrou.

– Doutor, o senhor precisa descobrir algo sobre o cultivo da flor do Lácio.

– Hum, hum – o cara suspirou – flor do Lácio? Quem quer saber isso?

– O presidente em pessoa, meu caro. Mexa-se.

Ao sair, largou a observação:

– Mais tarde ligo para saber.

O tal funcionário da Embrapa, na verdade, não perdeu tempo. Correu à biblioteca da repartição e, após virar páginas e páginas sem encontrar nada, debruçou-se sobre a mesa de um colega:

– Você sabe alguma coisa sobre o cultivo da flor do Lácio?

– Flor do Lácio… Flor do Lácio… Na verdade tô meio por fora.

– Quem quer saber é o presidente.

– Da Embrapa?

– Não, sua besta, o presidente da República.

– E se a gente consultasse o pessoal do Incra? Eles mexem com esse negócio de terras, MST, devem saber.

Só que no Incra também não sabiam de nada. Assim, no terceiro dia, quando Lula tornou a cobrar, Dra. Dilma foi taxativa:

– Nada, companheiro presidente, trata-se, pelo jeito, de um vegetal heterodoxo.

– Tudo bem. Então a senhora responda ao eleitor de São Carlos do Pinhal que aqui em Brasília não medra a flor do Lácio.

Daí pegou o telefone para bater mais um papo com o Evo Morales.

Esta crônica foi originalmente publicada no Correio Popular

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