Um dia gostaria de fazer um texto com coisas de que gosto e coisas de que não gosto – uma necessariamente pobre cópia do que fez Buñuel, de forma genial, em sua autobiografia escrita por Jean-Claude Carrière, Mi Ultimo Suspiro. (Sim, é autobiografia, porque é o espírito de Buñuel – embora tenha sido escrita por Carrière, seu comparsa em vários filmes.)
Seria uma cópia necessariamemte pobre porque, obviamente, eu estou para Luís Buñuel assim como a poeira do cocô do cavalo do bandido para John Wayne; como Leandro e Leonardo para Simon e Garfunkel; como Paulo Coelho para Liev Tolstói; como Dunga para Nilton Santos; como Lula para Fernando Henrique Cardoso.
Simplifiquei uns gosto-e-não-gosto de Buñuel, ao falar de um filme dele (tirando fora as explicações dele para cada gosto ou não gosto), assim :
“Gostei de Wagner. Gosto do Norte, do frio e da chuva. Detesto o pedantismo e a linguagem empolada. Sinto horror dos fotógrafos de jornais. Gosto da pontualidade. Adoro os bares, o álcool e o tabaco. Tenho horror a multidões. Gosto dos operários. Gosto muito de Wajda e de seus filmes. Detestei Roma, Cidade Aberta, de Rosselini. Não gosto das estatísticas. Gostei muito da literatura russa. Destesto mortalmente os banquetes e as entregas de prêmios. Detesto a proliferação da informação – a informação-espetáculo é uma vergonha. Não gosto dos donos da verdade, quaisquer que sejam; me entediam e me dão medo. Gosto das manias. Detesto a publicidade.”
Meu gosto-e-não-gosto, quando finalmente eu conseguir escrevê-lo, deverá incluir estes itens:
Gosto dos ex-comunistas; quem não foi comunista quando jovem não tem generosidade. Desprezo quem ainda hoje é comunista; são pouco informados, ou então simplesmente burros, imbecis.
Da mesma forma, gosto de ex-petistas; acreditaram em um sonho, tiveram esperança. Desprezo quem ainda hoje é petista; hoje só pode ser petista quem é pouco informado, burro, imbecil, ou então, pior, quem transformou ideologia em Bolsa-Auxílio, ou em emprego bem pago no Estado privatizado pelos cupinchas do poder.
Respeito quem vota no PSOL, no PSTU, PCO; são loucos – é preciso respeitar os loucos.
Para que não pareça que estou falando apenas de política, de eleição, digo que vou querer incluir, no meu gosto-e-não-gosto à la Buñuel, coisas que não têm a ver o PT e o lulismo.
Quando finalmente conseguir escrever meu gosto-e-não-gosto, gostaria de dizer:
Detesto as pessoas que arrebitam o nariz e dizem que não gostam de “cinema americano”.
Gosto de comédias românticas.
Detesto os cínicos. Admiro os believers.
Gosto de Joan Baez, Kate Wolf, Eva Cassidy. Não tenho o menor interesse por Madonna, Lady Gaga, Amy Winehouse.
Acho a revista Veja a coisa mais reacionária, mais prepotente, mais babaca da imprensa brasileira. Pior ainda que a Folha de S. Paulo, ela também prepotente, babaca, produto de marketing, coisa da empresa que apoiou e ajudou a ditadura militar e, quando os ventos começaram a mudar, mudou só por isso, para ir para onde ia o vento, por marketing, pelas vendas, jamais por princípios, coisa que, aliás, jamais teve.
Tenho profundo desprezo pelas revistas Carta Capital e Caros Amigos, exemplos perfeitos do lulismo – fingem-se de “progressistas” porque são pagas apenas e tão somente por anúncios do governo.
Acho Paul McCartney absolutamente genial. Acho que Paul McCartney dá de mil a zero em John Lennon.
Gosto de coisas clássicas, detesto modismos.
Gosto do Fellini antes de ele se achar gênio. Adoro Truffaut, acho Godard um chato de galocha. Admiro Bruno Barreto, respeito Cacá Diegues, babo com o personalismo de Domingos Oliveira, acho Gláuber Rocha um saco – não apenas por ele ter feito uma elegia a Sarney e outra a Golbery, mas porque os filmes dele são insuportáveis.
Gosto de Robert Wise, acho Orson Welles de uma metidez insuportável.
Tenho um desprezo imenso pelas pessoas de ego inflado demais – Orson Welles parecia o maior deles, até conhecermos Lula, o apedeuta de ego mais inflado da história da humanidade.
Gosto de viver em São Paulo. Gosto tanto de viver em São Paulo quanto de vez em quando passar férias na Praia do Forte.
Gosto de pessoas simples.
Mas gosto mais ainda de pessoas grandes. Por isso gosto de Fernanda, de Mary, de Regina, de Suely.
Julho de 2010
Sérgio Vaz, você não disse se gosta de metrô ou de trem, de hot dog ou pé de porco, de musculação ou espreguiçadeira, de Chico ou Martinha, de comissária de bordo ou rodomoça, de programa de índio ou de partido de índio. De pentelhos que deixam recados boçais, ou de recatados que se calam.
Caro Sérgio,
você gosta de tudo que gosto e detesta tudo que detesto. Portanto, sou suspeita pra falar, mas ainda assim falo: você não precisa imitar Buñuel, você é!
À propósito, meu comentário tinha a ver com as escolhas da vida. Sempre que me perguntam, vc gosta disso ou daquilo, quer ir para esse ou para aquele lugar, etc. Respondo: gosto de “e” “e” e não de “”ou” “ou”.