Os sites mudaram. E continuam igualinhos

Versão objetiva:

Resisti bastante, o quanto pude, à necessidade de mexer no nome dos meus sites, 50 Anos de Filmes e 50 Anos de Textos.

Mas era de fato uma necessidade. Não pode, simplesmente não pode se chamar 50 Anos de Filmes um site que existe há 13 anos.

Então, finalmente, eles estão com novos nomes. Carlos Bêla, da Carlos Bêla Design, que criou os dois sites, e os vem administrando desde então com doses imensas de talento e paciência, implantou a mudança no visual e na parte da arquitetura que a gente não vê.

+ de 50 Anos de Filmes.

+ de 50 Anos de Textos.

Nomes agora adequados à verdade dos fatos – mas ao mesmo tempo bem próximos dos nomes originais. Afinal, trade mark é trade mark.

A qualidade, modéstia às favas, não mudou absolutamente nada.

***

Agora, a versão como eu gosto – comprida, sinuosa, um texto que, à la Garrincha, à lá Ian McEwan (embora sem a genialidade deles, é claro), finge que vai pra cá mas vai pra lá.

A versão tipo suelto:

Resisti bastante, o quanto pude, à idéia de mexer no nome dos meus sites, 50 Anos de Filmes e 50 Anos de Textos.

Como assim, um site que durante 13 anos se chama 50 Anos de Filmes? Que, depois de um porrilhão de anos, continua chamando 50 Anos de Textos?

Não tem sentido.

Mas também não teria sentido algum ir mudando o nome a cada ano, né? 62 Anos de Filmes. 63 Anos de Filmes.

Talvez eu devesse admitir agora, com doses iguais de coragem e objetividade, que, lá atrás, quando criei o primeiro deles, o de filmes, eu errei na definição do nome.

Simples assim.

Como assim, não ter enxergado o óbvio, que esse nome já nasce fadado a ficar velho, sem validade, inútil, sem sentido?

Pois é. Diabo, e eu sempre me considerei (e fui considerado por muita gente de respeito) um bom tituleiro, titulador, fazedor de títulos. Sempre foi uma das minhas qualidades profissionais reconhecidas como tal – foi uma das coisas que me fizeram ter emprego, ter até bons salários, antigamente, quando havia empregos e até bons salários no jornalismo.

O cara que era tido (por ele mesmo e também por gente boa) como bom tituleiro criou um título para seu primeiro site que já nasceu torto, fadado a ficar velho daí a 365 dias.

Diacho: é bem isso mesmo. Um troço chamado 50 Anos de Filmes está fadado a ter seu prazo de validade vencido exatos 365 dias depois. E 365 dias passam voando, num piscar de olhos. Mal pisquei os olhos e já se passaram 13 anos desde que o Carlos criou para mim o 50 Anos de Filmes e comecei a tascar lá minhas anotações…

13 anos. Cinco anos de nascer Marina, certamente o melhor desenho que o Carlos fez na vida…

Tudo passa depressa demais, num piscar de olhos. Hoje já chamo Marina de ex-pequena…

***

Mas por que raios foi que resolvi chamar de 50 Anos de Filmes o site que a Mary me sugeriu criar, e que o Carlos construiu pra mim com uma boa vontade e um talento que só ele mesmo?

Se a vida fosse um filme, haveria aqui um flashback para julho de 2008, e veríamos o que se passava na minha cabeça. O duro é que a vida não é um filme. Na vida não há os flashbacks perfeitos como eu gostaria de ter agora – mas esta é apenas uma desvantagem pequena da vida diante dos filmes. Muito pior é o fato de que na vida não há corte no tempo, fade out, corta, avança-se, aperta-se a tecla de fast forward, aí fade in – e voltamos ao ar tendo pulado o tanto de tempo que queríamos.

Dá para imaginar como a vida seria maravilhosa se tivesse, assim como os filmes, a montagem, o corte no tempo, fade out, fade in – pulou? skipou?

Você vai ao dentista, como eu vou toda semana ao meu amigo Bado; você se senta na cadeira, conversa um pouquinho com o dentista, espero que o seu seja gente fina como o Bado – e aí fade out, corte, pula, skipa a consulta inteira e, no momento em que você está se levantando da cadeira, fade out, retoma-se a narrativa.

Ih, mas acho que aqui dei uma viajadinha. Bem que a Mary tinha me dito para, num eventual texto sobre a mudança de nome dos sites, ser sintético, objetivo, rápido.

Como diria o jovem Chico Buarque de Hollanda, qual o quê, meu… Qual o quê.  Nunca fui sintético, objetivo, rápido…

***

Os Filmes da Minha Vida.

Isso, sim, é um título, um nome, uma marca.

Me lembro de ter pensado bastante nesse título maravilhoso, em 2008, dois anos depois de ter saído do Estadão e me aposentado. Imaginei escrever um livro com textos sobre meus filmes preferidos. Foi por sugestão da Mary que comecei a pensar na possibilidade de lançar um site com meus textos sobre filmes – os preferidos, os nem tanto, os que detestei, todos.

Os Filmes da Minha Vida.

O problema era que esse título já havia sido usado. Em 1975, exatamente o ano em que nasceu Fernanda, que sempre brinquei que é o melhor texto que já fiz na vida, havia sido lançado um livro, pela lendária Flamarion, com o título de Les Films de Ma Vie. Em 1989, quando Fernanda já havia visto comigo as primeiras centenas de filmes da vida dela, a Nova Fronteira lançou a edição brasileira, Os Filmes da Minha Vida.

Não dava pra usar o mesmo título de um livro de François Truffaut – embora ele seja um dos meus maiores ídolos, embora eu tivesse pedido ao Carlos para colocar no alto da página do meu site uma foto de um filme do Truffraut, Jules et Jim. O 50 Anos de Filmes teve uma foto de Jules et Jim durante seus primeiros muitos anos – até que o Carlos deu uma modernizada no visual dele, e passamos, assim como o cinema, do preto-e-branco para o colorido – o esplendor das cores de Cantando na Chuva.

(Estranhamente, o site ainda não tem um texto sobre Jules et Jim. Mais estranhamente ainda, esse é o único filme de Truffaut que não está comentado no site. Todos os outros 20 longa-metragens dele já foram comentados – e também dois dos três curtas. Só falta Jules et Jim. Visualmente, o site é um brilho. Em termos assim de conteúdo, é meio esquisito. Nunca pretendeu ser enciclopédico – mas, diabo, um site de filmes que não tem Blade Runner? Que não tem sequer um único Eisenstein? Um único Griffith? Que não tem Cidadão Kane?)

***

Por que 50 Anos?

Consulto o que escrevi na página de Apresentação do 50 Anos de Filmes:

“Comecei a ver filmes uns 50 anos atrás (daí o nome do site). Quando tinha 12 anos, passei a anotar num caderninho os nomes dos filmes que via, os atores, o diretor, o estúdio, a duração, e uma nota; naquele primeiro ano, 1962, anotei 127 filmes. Em 1963, foram 121. Em 1964, 146.”

Hum… “Uns 50 anos atrás (daí o nome do site)”.

Uns 50 anos atrás… A palavra “uns” aí é bem maneira, e também bem mineira, no sentido de pouco exata. “Ah, pra chegá em Belzonte? Falta aí uns 20 quilômetro, mais o menu…” O que indica que podem ser 20, 40 ou 10…

Em 2008, quando o site começou, fazia já 56 anos que eu anotava nos caderninhos os filmes que via, conforme está dito na própria página de Apresentação…

Uns 50 anos atrás… “Uns”!

Talvez tenha pesado o número redondo e belo, 50. O fato de que eu sou da turma de 50 – 1950, o ano da derrota da Seleção diante do Uruguai no Maracanã recém-inaugurado, o ano de A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz, A Ronda, de Max Ophüls, Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, Nascida Ontem, de George Cukor, No Silêncio da Noite, de Nicholas Ray, O Segredo das Jóias, de John Huston, Os Esquecidos, de Luis Buñuel, Rashomon, de Akira Kurosawa, Rio Bravo/Rio Grande, de John Ford, Winchester ’73, de Anthony Mann.

***

Mas o fato foi que o site se chamou 50 Anos de Filmes e, quando nasceu o irmão mais novo, o de textos, no final de 2009, teve o nome semelhante-quase-igual para marcar a proximidade, 50 Anos de Textos.

O 50 Anos de Textos mudou muito, e muito rapidamente. Criado para ser, como o irmão mais velho, um repositário de coisas minhas, minhas coisas, ele muito depressa virou de “Sérgio Vaz e Amigos” – e foi recebendo amigos bem mais importantes e brilhantes do que eu.

Muito provavelmente merece – como sugeriu meu amigo Edmundo Leite, um jornalista que tem a internet, o eletrônico na veia – um outro nome completamente diferente, independente do site de filmes, que é só meu.

Precisava mudar. Tinha que mudar.

Pensei, pensei, pensei…

Pedi a opinião dos amigos. Pedi a opinião do Carlos – e ele, com a sabedoria de designer, de criador de logos e marcas, lembrou pontos fundamentais. A marca – as coisas têm marca, e esses diabos destes dois sites aqui, bem ou mal, têm sua marca, e na marca está a expressão “50 Anos”. Citou o exemplo da Nokia: a hoje gigante multinacional tem esse nome devido à proximidade do moinho de fabricação de papel do Rio Nokia; o nome original não foi abandonado.

Vejo o exemplo da Fox: até outro dia mesmo a 20th Century Fox continuava com o século XX em seu nome. Deixou de ser 20th Century Fox porque foi comprado pela Disney.

(Ei, Disney, ei, Amazon, querem comprar o ex-50 Anos de Filmes? Bom site, siô…)

E então acabei fazendo a escolha mais simples, a opção direta pelo + de. Estão no ar, a partir deste mês de julho de 2021, o + de 50 Anos de Filmes e o + de 50 Anos de Textos.

Só os nomes mudaram – é bom realçar isso. Os endereços na internet continuam os mesmos. A qualidade dos textos também, que me perdõem os que exigem modéstia…

9 e 11/6/2021

6 Comentários para “Os sites mudaram. E continuam igualinhos”

  1. Li, gostei, só não concordo com que haja colaboradores melhores do que o original – sua ilustre pessoa. Perguntinha: você ainda tem os cadernos das primeiras anotações?

  2. Puxa, haja texto para justificar apenas a inclusão de um “+ de” no título da página, mas é isso mesmo que acontece com os momentos do Sérgio. Eles se transformam em histórias e textos deliciosos, que adoramos ler. Beleza Sérgio. Parabéns pela mudança sem mudança, mas sempre com uma boa história.

  3. Mudança sim, apenas um + e vc continua com a mesma energia, a mesma bela escrita, expondo tudo o que vai na sua alma, Sérgio! Amo seus textos! Vc diz tudo o que a gente pensa, sonha, encanta e que não conseguimos colocar no papel! Sou sua eterna fã!!! Parabéns!!!

  4. Nossa mãe, Celia, sua mensagem me deixou ns nuvens… Periga até eu ficar metido, presunçoso…
    A última frase é brincadeira… Falando sério: muitíssimo obrigado pela mensagem tão absolutamente gentil, Célia!
    Um grande abraço.
    Sérgio

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