Marina em modo mudança de modo

Na semana em que Marina completou oito anos de idade – o segundo dos seus oito aniversários em que não estivemos próximos fisicamente, por causa da pandemia –, o quarto dela mudou. Saiu o quarto da criancinha pequena, entrou um quarto de menina crescida.

Na telenetada da quinta-feira, 18/3, Mary e eu presenciamos um pequeno acontecimento importante, até mesmo histórico.

Uma grande mudança. Um divisor de águas.

Aconteceu com um enfoque que faz lembrar – já que eu gosto de comparar as histórias que Marina vai criando nas nossas brincadeiras com narrativas do cinema, ou da literatura – o Quarteto de Alexandria, de Lawrwnce Durrell, ou o díptico Confissões de uma Mulher Casada/Confissões de um Homem Casado, que André Cayatte lançou em 1964. São, os dois, conjuntos de obras em que a mesma história é apresentada por diferentes pontos de vista. No caso do cineasta francês, a mesma história de como um casamento foi se desfazendo – uma vez contada sob o ponto de vista do homem, outra vez da mulher.

Mas não vou contar assim logo de cara qual foi, afinal, o acontecimento importante, a grande mudança.

Em vez de fazer como no bom jornalismo, em que o mais importante tem que vir logo na abertura do texto, vou deixar o lead, o mais importante, para o final – como nos noticiários de TV. Como na ficção.

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As brincadeiras que Marina cria em geral duram um dia – no dia seguinte tem outra coisa, uma brincadeira de cozinha com as Barbies, por exemplo, no seguinte outra ainda, uma história com as Winx, ou com as pôneis do My Little Pony, ou um desfile de moda, ou um torneio de ginástica. O repertório é amplo. Mas às vezes a mesma brincadeira, a mesma história se estende, continua no dia seguinte.

Ou seja: tanto Marina faz filmes normais, de 90 minutos de duração, quanto às vezes cria séries. Na semana dos seus oito anos fez uma série que atravessou os cinco dias úteis.

Na segunda, 15/3, anunciou: – “Eu vou fazer uma fábrica de figurinhas bem bonita.” “Na verdade, nós vamos fazer”, acrescentou logo depois. “Na verdade, é um grupo que faz figurinhas e várias outras coisas”, como convites de aniversário, convites para festas, por exemplo.

“Na verdade” é uma expressão que Marina usa demais quando está criando a historinha. Ela faz uma afirmação, aí diz na verdade é assim – e vai consertando, retificando o caminho para onde a história caminhará.

Ficou estabelecido então que nós três iríamos ter a fábrica de figurinhas e de outras coisas.

“A gente vai fazer o convite pro show das Unicórnias, a banda mais amada da Dimensão Mágica”, anunciou lá pelas tantas.

O fazer figurinha, fazer convite de Marina, aqui, não é no método que existe há centenas de anos, com papel, lápis de cor e imaginação – método que até usamos bastante, nós três, tanto na vida pré-pandemia, ao vivo e a cores, quanto agora, nas brincadeiras via tela.

Não, não, não. É fazer desenhos, artes no maravilhoso mundo da informática. Na máquina, no iPad ou no celular. Especificamente, no Messenger, que é o programa que usamos para nos falar, e tem diversos recursos, brincadeiras, efeitos – inclusive para editar fotos.

Marina está craque em editar fotos no Messenger, faz já alguns meses.

A fábrica de figurinhas e outras coisas era isso: editar imagens no iPad.

Qualquer semelhança com o que faz o Papai, designer gráfico, seria mera coincidência?

Abaixo, duas das figurinhas que ela criou nestes dias, durante nossa netada.

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Na terça, proclamou: “A gente vai brincar de fábrica de convite igual ontem.”

Só que, diferentemente da véspera, em que éramos Marina, Vovó e Vovô, já tínhamos voltado às identidades que têm sido as nossas nos últimos muitos meses – ela Flora, a Vovó a Bloom e eu o Sky, do Mundo Winx, a absoluta paixão da Marina já faz um bom tempo.

Ela, Flora, recebeu uma mensagem das Unicórnias; elas contavam que haviam gostado muito dos três convites que havíamos feito, e estavam nos convidando para assistir ao show delas.

Marina-Flora estava especialmente alegre, e criou uma música sobre as cinco Unicórnias. “Vem conhecer a magia da música”, tentou. Depois tascou: ‘Venha descobrir a magia da música, venha descobrir a magia da música…”

Em seguida, nos contou que havia recebido um convite para participar da banda! Para ser a sexta cantora da banda! A sexta Unicórnia!

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Na quarta, foi logo dizendo, depois dos cumprimentos: “Ô gente, tô enviando pra vocês uma foto pra fazer o fundo dos convites para o show das Unicórnias”. E explicou que a Flora participaria da banda mas não iria abandonar a fábrica de convites, não: continuaria trabalhando lá conosco.

A fábrica recebeu a encomenda de criar o convite para o Baile Real do Mundo Barbie. Cada um de nós criou o seu convite – era a forma que havia sido designada por ela.

Lá pelas tantas, nos comunicou que a Hermione havia mandado para ela convite para a festa dos seus 17 anos! Imagine – ela nos disse. Tinha cinco anos que as duas, Flora e Hermione, não se viam.

E a nova história foi se desenvolvendo: – “Agora eu vou ficar trocando de papel. Eu sou a Hermione e o Hélia é o Ronnie.”

E aí, na quinta-feira, nos disse: – “A gente vai brincar hoje o que a gente brincou ontem, só que não. Parece, mas não é igual. A Vovó vai ser a Gina, o Vovó vai o Harry, eu vou ser a Hermione e o Hélia vai ser o Ronnie.”

E em seguida: – “Continua o brinquedo de ontem: a Hermione, o Harry Pottrer, o Ronnie e a Gina estão visitando as Winx – só que agora nós somos a turma de Hogwarts!”

A mesma situação – só que nós quatro, ela, o Érolti ursão de pelúcia, a Vovó e o Vovô deixávamos de ser aqueles personagens do Mundo Winx e passávamos a ser os personagens do Mundo Harry Potter!

Continuávamos na mesma história, só que olhando as coisas sob uma nova perspectiva.

Lawrence Durrell e André Cayatte aplaudiriam a idéia de Marina de pé como na ópera!

Uma beleza, uma maravilha de sacada da criaturinha, que já me surpreendeu com toques de Woody Allen e Ingmar Bergman, a danadinha.

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Uma coisa realmente sensacional, mesmo botando de lado toda minha brincadeira de comparação com esses grandes artistas – ou melhor, principalmente botando de lado essa minha brincadeira…

Acho de fato que Marina tem centelhas de criatividade de babar, e essa foi uma delas. Continuar a mesma história, a mesma situação, o povo de Hogwarts visitando o Mundo Winx, mas de repente nós deixando de interpretar uns para passar a interpretar os outros é uma beleza de sacada.

Mas é mais do que uma bela sacada – até porque belas sacadas ela tem muitas vezes.

Creio que o dia de quinta-feira, 18 de março, marcou de fato um acontecimento importante, histórico: Marina está desencarnando da Flora – e mergulhando em Hermione.

Marina passou anos encarnando Elsa, a princesa do Frozen. Anos. Preciso fazer uma pesquisinha nas Agendas do Vô para ver as datas, as épocas – mas ela foi Elsa por anos. Meu Deus, quantas vezes, ela aqui em casa, nós brincamos de Elsa (ela), Anna (a Vovó) e Krystoff (o Vovô) e mais Olaf e mais o mentiroso, falso, cruel Hans! Cacete, quantas vezes enfrentamos o Hans, aprisionamos e amarramos o Hans e colocamos numa prisão super reforçada para ele não sair e voltar a nos importunar!

Elsa foi substituída pela Astrid de Como Treinar Seu Dragão. Marina encarnou Astrid por uns bons meses – de novo, tenho que checar as datas, mas foram meses.

E aí vieram as Winx, e ela encarnou Flora, a fada da natureza.

O Érolti virou o Hélia, o blá-blá-blá da Flora. A Vovó virou a Bloom, eu virei o Sky. A Mamãe era a Musa, o Papai era o Riven.

Nesta quinta-feira, Marina começou a desencarnar da Flora e a mergulhar na Hermione do Harry Potter!

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Na sexta-feira, depois de conversarmos um pouquinho, não anunciou de que iríamos brincar. Quer dizer, não verbalizou. Pegou a varinha mágica que havia usado no dia anterior e nos mostrou, com um sorrisão lindo.

Era hora do almoço no castelo das Winx. Marina-Hermione reclamou: – “Logo agora que eu estava num pedaço muito bom do livro que eu estou lendo!”

Sim: a Hermione de Marina é como a Hermione dos livros e dos filmes – estudiosa. Extremamente estudiosa. De férias no Mundo Winx, a convite da Flora e suas amigas, só pensa em se trancar no quarto e ler, ler, ler, ler…

Foi criando a história, viajando nessa junção de mundos, o Mundo Winx que vai ficando pra trás, o Mundo Harry Potter no qual está mergulhada.

Flora e as amigas haviam nos convidado para um acampamento na floresta.

Hermione deu idéia de a gente enfeitar umas barracas de acampamento na fábrica de figurinhas, convites e desenhos!

Marina ex-Flora, agora Hermione, continua a Marina que gosta de criar histórias e editar figuras no Mundo Informático.

18 a 22/3/2021

3 Comentários para “Marina em modo mudança de modo”

  1. Servaz, essa sua netinha é espetacular. O velhinho aqui fica encantado.

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