A Joy de Marina é porreta

Aos 47 minutos do segundo tempo, quando eu contava a terceira história de um livro novo com contos dos Irmãos Grimm, de dez páginas para cada conto, e já era muito, muito tarde, tipo 23h, e era para Marina estar no décimo sono, ela me interrompeu:

– “Mas, vovô, essa bruxa era boa?”

Estava lendo pra ela “João e Maria”, depois de ter lido as histórias bastante barra-pesadas do “Lobo e os 7 cabritinhos” e de “Rapunzel”.

Era para a pequena já estar dormindo. Brigava contra o sono, que nem o avô volta e meia faz. Fechava os olhos, abria com dificuldade, segundo a avó via, sentada a 45 graus, à nossa esquerda – mas não se deixava vencer.

Quando li o trecho da história em que João e Maria chegam à casa da bruxa, cansados, com fome, e a bruxa arranja para eles uma boa comida, e uma boa caminha, Marina demonstrou que podia estar exausta, às 11 da noite, mas estava atenta:

– “Mas, vovô, essa bruxa era boa?”

Esta foi a primeira, a primeiríssima vez em que Marina dormiu na casa de vovô e vovó sem mãe ou papai ou Cau. Acho que foi a primeira vez que ela dormiu longe de ou a mãe ou o pai ou a Cau em toda a sua vida.

Vínhamos falando sobre esse dia há muito tempo, nós e a mãe dela.

Claro que jamais vou esquecer de que a mãe da Fê e eu a deixamos dormir sem a presença de um nós quando ela era muito, mas muito pequenininha demais, tipo seis meses: fomos, Suely e eu, para um fim de semana em Águas de Lindóia, deixando a pequetita com os avós, Dona Diva e Seu Antenor. Não nos torturamos em muitas dúvidas: queríamos descansar, e deixamos a pequetucha com os avós.

Fêzinha jamais deu demonstração de guardar trauma por passar fins de semana com os avós desde bem cedo.

E, agora mãe, fazia tempo que ela queria provar, experimentar esse negócio de a filha dormir com os avós.

***

2016-03 - Marina dia 05 - P1180859 - Corte - 720Confesso que quando a netada vira programática, pragmática, fico um tanto tenso. Sei ficar com Marina como avô sem obrigação – isso eu sei muito bem. Mas… ficar assim com toda a obrigação de cuidar dela?

Ficava com medo de que alguma coisa não desse certo na primeira vez.

Deu tudo absolutamente certo.

Marina não fez o mais mínimo chororô para coisa alguma. A mãe a deixou aqui tipo 19h do sábado, vindas da festa de aniversário do Zeca, colega de escola. Marina brincou, brincou, brincou. Lavou as mãos fazendo um pouco de onda, jantou maravilhosamente bem e bem humorada. Viu duas Peppas – e se distraiu, e não quis ver mais. Tomou banho super, hiper bem humoradamente. Não queria era sair do banho. Reclamou bem pouquinho, mas escovou os dentes. E disse que queria dormir.

Sentei numa cadeira ao lado da cama que tinha sido da mãe dela, e li, e a bichinha estava lépida e fagueira, sem demonstrar sinal de sono.

Encaminhei para que voltássemos à sala. Sessão longa, delícia, de desenho. Sessão delícia de história. Ela parecia exausta, mas continuava firme, atenta.

Só dormiu perto de 23h45, quando Mary me botou para escanteio e entrou pro quarto com ela.

Às 7h exatas, em ponto, ouvimos ela chamar: “Vovó!”

Mary se levantou e foi para o quarto. Marina estava com a cara ótima, alegre, feliz. Deu “bom dia, vovó!”, e informou: – “Dormi muito bem”.

Achei isso uma das melhores coisas de tudo o que houve de maravilhoso na primeira noite de Marina sozinha conosco. Quando ela acordou, tinha plena e absoluta consciência de onde estava. Sabia perfeitamente que estava na casa do vovô e da vovó – e acordava alegre.

Eu tinha dormido muito pouco e muito mal – no máximo umas 4 horas, e mesmo assim com um sono muito leve. Mas fiquei ouvindo a vozinha alegre dela, entre cochiladas, até que ela entrou no meu quarto para me chamar, às 8h10.

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Queria parquinho – e eram cerca de 9 da madrugada quando desembarquei com ela na Praça Irmãos Karmann, Mary indo procurar lugar para parar o carro.

Não dá para não pensar que a Joy da cabecinha da Marina é uma profissional da melhor qualidade.

Contei isso pra ela, uma hora qualquer da manhã. Ela não entendeu muito bem, é claro, porque ainda não viu Divertida Mente – até porque não é um filme recomendável para uma criança que está para fazer 3 anos apenas. Mas o fato é que Joy de Marina é de excepcional talento. E a Sadness dela, ao contrário, trabalha pouco. Joy não abre muito espaço para Sadness.

***

A cada dia alguma coisa nova.

Nesta sexta-feira, faltando só 4 dias para Marina fazer 3 anos, ela convidou Mirela, uma amiguinha do prédio, para subir com ela para brincar e jantar em casa, depois do parquinho que vem depois da escolinha. Acho que foi a primeira vez que ela convidou uma vizinha para jantar em casa, ela mesma, sem a presença e a influência da mãe.

Brincaram um tanto no quarto, e depois, com ajuda da Cau, Marina fez uma festa de aniversário para a amiga.

Quando a mãe chegou do trabalho, a pequena disse: – “Mirela, esta é a minha mamãe. Minha mamãe é muito legal.”

“Ganhei o ano”, comentaria minha filha.

11/3/2016

4 Comentários para “A Joy de Marina é porreta”

  1. “Mas, vovô, essa bruxa era boa?” foi ótimo! As tiradas da Marina são demais!
    Depois de ler que ela tinha ido dormir perto da meia-noite, e acordado às 7h chamando pela avó, eu ri. Não sei de onde tiram tanta energia. A Joy dela é porreta mesmo, pois eu teria acordado no maior mau humor nesse horário, tendo ido dormir tarde (e olha que nem foi tão tarde; é tarde para crianças e para os padrões dela).

    PS: A foto com a amiguinha não está aparecendo no corpo do texto.

  2. É, mas às 10h30 da manhã ela captou e dormiu mais de uma hora… (Ela ainda dorme perto da hora do almoço.)

    Tirei fora a foto com a amiguinha por recomendação da minha filha, que, zelosa, ponderou que não devo publicar foto de criança sem autorização dos pais…

    Um abraço, Jussara.
    Sérgio

  3. Lindas as fotos da Marina. Olhar doce e sorriso entre meigo e sapeca. Uma figurinha!!!

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