Minha amiga perguntou, ao telefone. Vai sair? Com que roupa? Duas peças, respondi. Ela disse que uma blusinha leve e uma saia iam bem. Desliguei. Tinha acabado de me pentear e maquiar. Estava nua. Coloquei o vestido e peguei a bolsa. Duas peças.
Na garagem, liguei o carro. Sai, como sempre, sem destino. Rodei ao acaso, até chegar a um bairro de ruas desertas. Em uma delas havia um alojamento de obra com muito peão conversando na frente. Olhei o relógio: onze da noite. Desci. Passei por eles como quem não tem outro caminho a fazer. As conversas pararam. Me comeram com os olhos.
O vestido era justo, mas não agarrado. Colava em meu corpo o suficiente para que os famintos suspeitassem minha nudez. Eu queria ser uma isca atraente, não uma qualquer. Em outras noites havia passado na frente de bares suburbanos, de pontos de encontro. Nestes, mexiam comigo, diziam ô gostosa, vem aqui… Mas eu seguia em frente. Sumia na escuridão de ruas mal iluminadas. Lentamente, para que vissem por onde eu ia.
Nessa noite, a do alojamento, tinha andado dez minutos, quando senti uma mão agarrar meu braço com força. Ouvi a voz de um homem, abafada. Se você gritar eu te mato. Me levou, aos trancos, para o terreno em frente.
Tentava, à força, levantar meu vestido. A mão direita na minha garganta: não resista, não resista. Então comecei a levantar o vestido. Passei a mão por seu rosto. Acalmei-o. Sussurrei ao seu ouvido: esperei tanto por você, querido.
Janeiro de 2012
Ficcionista bissexto, o jornalista Valdir Sanches avisa que está fazendo uma experiência de conto erótico.
Os dois contos aprovam a experiência do Valdir no estílo erótico com um leve estílo cômico.