Um favorzinho aqui, outro acolá. Nomeações, falsificações, tráfico de influência, e sabe-se lá mais o quê. Na semana em que a Suprema Corte encerrou a dosimetria das penas dos réus do mensalão, pela primeira vez decidindo mandar poderosos para a cadeia, a estrela foi Rosemary Noronha. Ou simplesmente Rose, ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, que se vangloria da intimidade com Lula, e que por 12 anos secretariou o agora condenado José Dirceu.
Perto dos crimes do mensalão, os “malfeitos” de Rose parecem pecadinhos, quase risíveis. Mas a naturalidade com que foram cometidos vai além da conhecida confusão do petismo entre o público e o privado. Expõe, em miúdos, como o PT apoderou-se do Estado.
O PT tem muitas Roses.
E o aval à prática veio de cima. Em 2004, a primeira-dama Marisa Letícia achou natural fazer nos jardins do Palácio da Alvorada uma estrela de cinco metros de diâmetro com sálvias vermelhas. Estrela, aliás, que continuava lá quando Dilma Rousseff assumiu a residência oficial.
A ex-ministra da Assistência Social de Lula, Benedita da Silva, também achou que podia ir rezar na Argentina à custa do erário. E o ex-ministro dos Esportes Orlando Silva pagou até tapioca com cartão corporativo, como se dele fora. Isso foi em 2008, quando se desbaratou a farra dos cartões que financiaram todo tipo de particulares com dinheiro do contribuinte.
Menos folclóricos e mais lucrativos foram o aporte milionário da Telemar, hoje Oi, para a Gamecorp, empresa do filho de Lula, ou os negócios da família Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil e amiga da presidente.
A lista de exemplos parece não ter fim.
Dilma foi rápida para demitir os citados no Rosegate, preservando a imagem de faxineira implacável. E antes que a água lhe roçasse o pescoço fez saber que pretende fechar os gabinetes da Presidência que ela própria criou em Belo Horizonte e em Porto Alegre.
O escritório de BH, que como o de São Paulo funciona em um andar de um Banco do Brasil cada vez mais dominado pelo governo de plantão, a presidente entregou para Sônia Lacerda Macedo, colega de ginásio e de armas. Nunca foi lá. Para o de Porto Alegre, que nem foi instalado, designou Cristian Raul Juchum em maio de 2011.
Os chefes regionais são remunerados mensalmente e nada fazem, pelo menos visível ao público pagante. Mas até Rose vir à tona, Dilma achava normal ter estruturas para atender a si nessas cidades, sob o argumento “republicaníssimo” de que nasceu em uma e fez política em outra.
Ou seja, por mais que finja tentar, nem Dilma escapa da República de Roses.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 2/12/2012.
Há um escândalo novo no país. Envolve uma ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Por que esse tipo de escândalo ocorre com tanta frequência?
A cultura tradicional brasileira é patrimonialista. A confusão do público com o privado, a família com o Estado. Eu não vou nunca negar que o presidente Lula deu algumas contribuições importantes ao Brasil. Mas houve uma regressão patrimonialista. Aceitar como normal a transgressão. Na cabeça deles não é transgressão. Aceitam que você está lá, tem que ocupar o Estado, tem que nomear. Isso, que vem da tradição. Eu sei que existe. Lutei muito contra. Não consegui tudo, mas muita coisa eu era contra, eu não deixava. Tentava lutar. Nisso parece que houve uma espécie de: ‘Ah! Agora finalmente podemos’. E dá nisso. Esse último episódio é uma consequência de uma coisa mais geral
Nesse episódio específico, o ex-presidente Lula tem evitado comentar. A presidente Dilma também não comentou, mas demitiu todo mundo no primeiro momento. Agiram bem?
A presidente Dilma não tinha alternativa. Aliás, ela tem feito isso. Você pode: ‘Bom, ela não vai com a linha de lá’. É verdade. Mas isso não é por causa dela. Tem um sistema montado. Ela está nesse sistema. Esse sistema ampliou muito uma tradição que é ‘dá cá, toma lá’. É interno. Todo sistema democrático implica, em algum grau, tem isso. Mas em algum grau e não com objetivo pecuniário, com objetivo de poder.
Esse sistema não foi desarmado. Não é fácil desarmar. Eu acho que aqui, se há uma instituição que precisa ser repensada, são os partidos e o Congresso.
Pois é, FHC FALOU: tradição patrimonialista do País. Bem, já li vários artigos neste site, e percebi a compulsão dos autores em chamar de “petista”:
– A tradição patrimonialista brazuca: eles tiram a expressão “tradição brasileira” e colocam “tradição petista”;
– O personalismo brasileiro, que alguns parecem querer provar que é petista;
– O coronelismo secular, colocado para escanteio e substituído por “caudilho petista” ou “bolivariano”;
– A corrupção palaciana nos Poderes, que ganhou ares extremos DEPOIS do Collor, e é também chamada de “petista”;
A gastança petista que gera rombos fiscais oculta a perspectiva de CRISE FISCAL NORTE-AMERICANA do guerreiro Jorginho Bush, causadora de temores e males em nível mundial.
Os exemplos pululam, aqui neste site.