O flamboyant da Vera, que é minha prima querida, está deslumbrante. Pedindo para ser contemplado com os olhos sensíveis de quem passa ou visita a casa aberta e amiga de Brasília. O outono e o inverno estiveram muito secos e descoloridos, sem graça. Apreensivos, os amigos passavam o tempo procurando pela conversa ampla, mesa farta e alegria imensa da mulher solidária. Tempos de preocupação e demonstração de afeto.
O mundo correndo solto com seus amores e tragédias diários. E nós todos chupando dedo à espera de tempos mais brilhantes. Mas eis que a chuva e a primavera chegam e junto delas a mensagem prazenteira voa pelos meios eletrônicos e invade os nossos corações:
“Meu flamboyant já está enfeitado para comemorar algo. Não podemos perder ambiente tão lindo! Tomarei providências. Beijos, Vera.”
Estão de volta a beleza, a música e a alegria. No alto de sua magnitude, o deus vegetal anuncia proteção e deslumbramento. E é em torno dele que voltaremos a nos sentar, ouvindo, tocando e cantando música de qualidade. Ele não aceitaria menos do que o que há de excelente em nosso cancioneiro.
As vozes e os ouvidos da amizade se brindarão naquele chão brasileiro construído por nossa Vera para os que ela recebe em seu lar diamantino e brasiliense. Os quadros nas paredes e as esculturas, presentes dos admiradores da vida inteira, se enfeitarão para realçar a excelência das obras dos artistas que velam pela estética da casa.
O pau-rosa, flor-do-paraíso, com seus quase quinze metros realça a noite e o dia. É comovente em seu esplendor, seja no Madagascar ou em Brasília. É é ali que, brevemente, ela mandou apenas um primeiro recado, um aceno, que uma multidão de gente que adora a dona da casa irá se reunir.
Do alto de minha cidade montanhosa, esfrego minhas mãos em agradável expectativa. As águas finalmente desceram sobre nós, refrescando nossos dias. Árvores e flores deitam suas cores sobre as metrópoles antes secas e calorentas. Vontade de sair dançando e cantando na chuva, assobiando mil melodias pelas ruas, como se louco fosse. De uma certa forma devo ser mesmo, pois a prima Vera sempre diz que todo Brant é meio doido.
Sei que os ombros estão pesando menos e a possibilidade de festa está à vista no horizonte próximo. Por enquanto deito meu olhar sobre a majestade do flamboyant. E antegozo o dia em que a comemoração anunciada se realize. Viva.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em outubro de 2011.
Do flamboyant de Vera ao flamboyant da minha mãe, doces recordações de outonis e invernos desembocados na coloroda primavera. Brant mexe com a gente.
O VERBO É PRIMAVERAR…