Sexta-feira última, cheguei para trabalhar no horário de sempre. Curiosamente não tinha ninguém na agência. Digo curiosamente porque sempre tem alguém pra abrir o portão mesmo que no horário de almoço. Esse dia não tinha. Esperei uns 10 minutos mas não apareceu ninguém. Justo este dia eu estava sem carro, poderia adiantar algumas coisas na rua, mas eu estava a pé. Resolvi então tomar um café ali por perto mesmo até alguém chegar. Desci o quarteirão e fui parar num lugarzinho novo, recém aberto. Tomei meu café e quando estava saindo de lá, tropecei no Mazzoni. Nos cumprimentamos daquele jeito dele de sempre, com um abraço, um beijo, e uma despenteadinha afetuosa no meu cabelo.
Conversamos apressadamente e en passant: trabalho, filha e pai, tudo ok? Tudo ok? E com você? Também, tudo ok! Então tá bom! Sorrimos e fui descendo rapidamente a escadinha, de frente pra ele, ainda conversando. Já estava atrasada, mas voltei e subi novamente os dois degraus já descidos para dar outro beijo e outro abraço. O ultimo beijo e o ultimo abraço.
Hoje acordo com a notícia de que uma parada cardíaca levou ele embora esta noite.
Fiquei sem chão, sentei e abri o jornal, como todos os domingos, e li o último artigo dele que ironicamente ainda estava lá, vivo e pulsante, falando sobre morte. “A desgraça ou o fim, encare como quiser, pode estar atrás da próxima arvore, no próximo semáforo, no rapaz de cabeça baixa com quem vamos cruzar depois do anoitecer. Um átimo de tempo e tudo pode mudar.”
Escreveu isso certamente depois de domingo passado, quando num cruzamento no centro da cidade seu carro foi atingido por um outro carro que avançou o sinal vermelho. Perda total no carro, uma costela quebrada, um B.O. e um modo novo de olhar pra vida: “é hora de você rever seu caminho, começar a dar valor a coisas simples, a sorver cada segundo de vida que Deus lhe deu com tarifa zero”
Além disso, ele tinha acabado de perder o único irmão, e creio que ainda estava sob o impacto inconformado desses estúpidos revezes que a vida dá.
Chorei do início ao fim, com um aperto no peito, lembrando da sexta- feira, quando eu tive a chance de me despedir dele. Muitos não tiveram essa chance. Eu tive.
Espero do fundo do meu coração que o filme que tenha passado na sua tela esta noite, Sr. Sidney, tenha sido o melhor filme da sua vida, daqueles de deixar Woody Allen no chinelo, com direito a pipoca e full HD.
“Quando as cortinas se fecharem e você estiver com um sorriso nos lábios ou aquela emoção gostosa de dever cumprido, você se sentirá uma pessoa de sorte.”
Para quem não conhecia, Mazzoni era jornalista, atualmente editor-chefe do Jornal de Jundiaí.
Para mim ele era Sidney, com ênfase no Y só pra irritar, pai da Natália e do Davi , palmeirense roxo e amigo do meu pai desde sempre.
Descanse em paz, Sidney sem ênfase no y. Um beijo, um abraço e uma despenteadinha afetuosa no seu cabelo.
1º de julho de 2012
Mário Marinho colocou em seu blog este texto:
Mazzoni chegou ao Jornal da Tarde no final dos anos 80. Possivelmente, por volta de 1987. Ele trabalhou comigo como reelancer no fechamento da Edição de Esportes. Todos os domingos ele, o Milton Leite e o Dagoberto Azzoni vinham de Jundiaí para trabalhar no fechamento. Depois que eu saí do Jornal da Tarde (1989), Mazzoni continuou, foi contratado e tempos depois assumiu a direção da Editoria de Esportes.
Foi sob a direção dele que o JT lançou o caderno de Esportes diário e em formato tablóide. Segundo informações do Sandro Vaia, Mazzoni ficou no JT até 2007, quando voltou às origens: o Jornal de Jundiaí. Seu último cargo no jornal foi redator-chefe.
Há poucos dias, Mazzoni sofreu um acidente de carro e quebrou uma costela. Na tarde de ontem, sábado, Mazzoni começou a sentir-se mal e foi levado para o hospital, onde sofreu parda cardíaca e faleceu.
Mazzoni deixa a viúva e os filhos David e Natália (ela é jornalista e trabalha no Estadão). O enterro foi neste domingo, na cidade de Jundiaí.
Ju (ou Giu, belíssima homenagem ao grande Mazzoni. Está tudo lá, no impressionante e não menos belíssimo último texto que ele nos deixou…
Sidney Mazzoni era um bom jornalista, um bom amigo e uma pessoa de bom humor. É preciso dizer mais?
Interessante que mantive contato por anos e, de repente a vida separa os colegas, os amigos. A vida toma rumos diferentes. Lembrei-me do Sidney ontem, durante o jogo do Brasil e pensei como estaria? Sabia que estava em Jundiaí porém busquei por seu contato no google e o que encontrei foi a notícia. Tardia, bem sei. Mas consternada. Triste perda ! Estranho,, no minimo.