A cada dia precisa-se acordar mais cedo para ir em direção ao trabalho. Mora-se mais longe, o transporte público é uma lástima e quem disse que se trabalha oito horas por dia? E o tempo que se gasta da casa para o trabalho e do trabalho para casa não conta? Se não influi no salário, prejudica muito a vida das famílias dos brasileiros.
Os passageiros circulam pelas ruas da cidade como se estivessem em latas de sardinha. Se essas pessoas pudessem abandonar seus empregos, o que não fazem pela necessidade de sobreviver, a cidade, o estado e o país parariam. E quero ver de onde viria o dinheiro para sustentar as mordomias e inutilidades encenadas pelos legisladores e administradores públicos.
Recente pesquisa do STF indicou que cerca de noventa por cento do que é aprovado pelas câmaras municipais, estaduais e federais é anulado por ser inconstitucional. Isso deveria ser uma preocupação básica de qualquer servidor público: ler e aprender o que diz a nossa constituição. Ela é a bíblia, a referência maior da cidadania. Nela estão inscritos os direitos e garantias do cidadão, que não podem ser negados nem violados. E também as obrigações nossas e dos que alcançam os cargos políticos.
Mas eu canso de ler as propostas absurdas que são apresentadas às comissões e aos plenários. Perda de dinheiro que é nosso e não pode ser rasgado pela incompetência e má fé dos que se elegem pelo voto popular. Cada projeto desses deveria ser punido com desconto nos salários de quem gasta o que não é seu com tamanho destemor e irresponsabilidade.
O mais lamentável é que não se enxerga uma saída para essa situação. Os governos, em sua maioria, são medíocres, não conseguem vislumbrar um palmo além de seus narizes insensíveis. Qual é o projeto de Brasil que está sendo debatido neste momento, ou que foi discutido em tempos recentes ou remotos? Não há pensamento, reflexão, lucidez. Vivemos de remendos, de tapar os buracos surgidos depois da tempestade.
E haja cachoeiras de escândalo e roubo descarado de dinheiro público para desanimar de vez o brasileiro trabalhador. Vestem máscara de honradez os vampiros da nacionalidade.
Há muito boas perspectivas para o país e para os brasileiros. Mas será que desta vez vamos mesmo romper as fronteiras que nos separam do verdadeiro desenvolvimento com justiça social, saúde, educação e cultura? Não basta desejar, torcer, fazer fé.
Precisamos de ação lúcida e consequente, que raramente encontramos em nossos governantes. Não suportamos mais esperar o paraíso e permanecermos no risco de nos transformarmos em um grande Maranhão.
P.S.: para ter certeza de que a presidente deve vetar ou não o Código Florestal eu precisaria conhecê-lo bem. Todos os que estão se manifestando, a favor ou contra, leram o catatau?
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em maio de 2012.