Ícone da participação partidária, do estímulo ao debate entre correntes diversas e, portanto, da democracia interna, a consulta prévia para escolher candidatos majoritários do PT foi para o saco. E não só na cidade de São Paulo, onde os quatro postulantes cederam gentilmente a vaga ao pupilo da vez do ex-presidente Lula.
O exemplo paulistano vai ser usado para fazer sucumbir, de novo, o PT mineiro, que, em 2010 se enforcou junto com o PMDB de Hélio Costa, perdendo militantes históricos como Sandra Starling. Desta vez a vítima é o vice-prefeito de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, que, se ainda não arredou pé da candidatura, dificilmente conseguirá suportar a pressão depois de ver até Marta Suplicy, campeã nas intenções de votos na capital paulista, não ter outra saída.
Dizem os líderes petistas que a suspensão de prévias em São Paulo e nas capitais estratégicas garante coesão partidária. Argumento estranho se confrontado com a lógica. Até porque, qual seria a única divisão possível quando Lula unge um candidato? Lulistas e anti-lulistas?
Como isso é inimaginável, possivelmente o temor se dá em outro nível. E, ao que tudo indica, no mais baixo: garantia de manutenção e de novas levas de cargos, regalias aqui e ali, e talvez outras benesses inconfessáveis.
Na outra ponta, o PSDB, que há anos só consegue se digladiar internamente, promete arriscar-se em prévias na capital do Estado em que reina absoluto há mais de 16 anos. Inexperiente nessa seara – o tucanato ainda torce por uma improvável candidatura de José Serra -, iniciou um ritual inédito com o qual não tem qualquer intimidade: roteiro de visitas dos pré-candidatos a diretórios zonais, dois debates, previstos para os dias 24 deste mês e 8 de dezembro, campanha na internet.
Nada disso acontece por acaso. Nem no PT, nem no PSDB.
Longe do poder central há quase uma década e sem lideranças capazes de empolgar, o PSDB corre atrás do que não fez anos a fio: estimular e garantir a participação de filiados para, a partir daí, tentar dar passos mais largos.
Tarefa árdua. Principalmente para quem não sabe nem mesmo qual o papel que o resultado das eleições de 2010 lhe reservou.
Já o PT de Lula, eleito, reeleito e eleito de novo com Dilma Rousseff, crê que se credenciou para prescindir não só da trabalhosa democracia interna – daquelas minorias que atrasaram a chegada ao poder, e que, vez por outra, ainda perturbam o Politburo -, mas de partilhar decisões com seus filiados.
Parou de esconder que sempre escolheu a voz do dono às vozes das bases. Parece traição, mas não é. O PT apenas saiu de vez do armário.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/11/2011.