Quase nove da noite, chuvinha chata – ir pra casa, nem pensar –, converso com o porteiro do prédio em que trabalho.
O sotaque nordestino me conta que seu dono acalenta um sonho antigo, nascido há tempos, antes de vir pro sul.
Um dia, era pequeno, viu um conjunto de casas populares. Nunca mais esqueceu. Aquele mundo de casinhas, todas iguais, lindas, brancas, enfileiradas, esquecer de que jeito?
— Você viu essas casinhas onde, Raimundo? Em sua terra, Pernambuco?
— Não, na Bahia. Meu pai foi lá, de carona num caminhão, visitar a mãe dele, minha avó. Eu era pequeno, ele me levou. Minha mãe não queria, ele teimou, levou.
— Viagem grande, de Pernambuco até a Bahia, hein?
— É, mas não sou de Pernambuco, não.
— Não? De onde, então?
— Alagoas.
— Alagoas? Terra do Collor?
— Isso mesmo. Gente ruim, essa aí, nem conversa com pobre. Já trabalhei pra eles, faz tempo, ainda não era casado com a Janete. Vida muito mais difícil do que essa, aqui. A sorte foi que Deus ajudou, e a gente não arranjou menino.
— Você tem só um filho?
— Só, por enquanto. Coisinha de nada, quatro meses.
— E a Janete? Ela gosta daqui?
— Gosta demais, parece que nasceu aqui.
— Ela também é de Alagoas?
— Também, do mesmo lugar, lá no sertão.
— E a casinha, lá na Bahia?
— Tão bonita. Dava pra comprar, já juntei o dinheiro. Mas a Janete não vai. Não quer nem ouvir falar no assunto.
— Ela acaba indo, você vai ver.
— Será?
— Acaba indo.
— Vai não.
— Vai conversando com ela, cada dia um pouquinho.
— Ela não quer.
— Você insiste.
— Ela não acredita.
— Ela não acredita que você quer ir pra lá?
— Ah, nisso ela acredita, tem até medo.
— Então, Raimundo, ela não acredita em quê?
— Ela não acredita que gosto de lá de verdade, que quero ir, ficar. E nunca mais voltar pra cá. Ela não acredita, nunca acreditou.
— Se eu pudesse te ajudar…
Vivo conversando com ele, mesmo em dias sem chuva, e nunca vi seus olhos brilharem tanto, como naquela noite:
— Você pode ajudar, sim!
— Como, Raimundo?
— Me deixando falar com ela que a gente conversou, e que você me disse essas coisas.
— Que coisas, meu Deus?
— Posso falar com ela que você, também, gosta de casa popular?
Esta crônica foi originalmente publicada no primeiroprograma, em outubro de 2011.
Vivina, bom-dia.
Desculpe usar esse espaço para isso, mas é que não consigo retorno através de um e-mail que Ronald Claver me passou.
Sou pesquisador de imagens em uma editora, e preciso muito de um contato atual seu para uma foto de divulgação para uma biografia sua a entrar em livro didático.
Por favor, peço que entre em contato comigo através do e-mail ricardo.lima@ensinolivre.com.br
Agradeço imensamente.
Abraços
Ricardo