Papudinha

E afinal foi só um para a Papuda. E civil. E assim mesmo nem é a Papuda, mas a Papudinha, assim chamado o quartel do batalhão da PM que guarda o complexo penitenciário de Brasília e também serve de prisão para policiais condenados. 

Que papo é esse? Simples. Xandão não é mais aquele. Talvez nunca tenha sido o que pensavam ou diziam que era. Linha dura, intransigente, tirano e cruel. Ao contrário do que se queixam e choramingam os bolsonaristas, Xandão é mãe. 

Podia ter botado todo mundo na gaiola comum, mas talvez para não se amolar com a choradeira dos viúvos e viúvas do fracassado golpe, pôs cada macaco no seu galho. Milicos nos quartéis, civis na Papudinha — supondo-se que o deputado federal foragido em Miami, Alexandre Ramagem, ex-diretor geral da Abin, siga um dia o mesmo caminho que o ex-ministro da Justiça e secretário da Segurança do DF, Anderson Torres, agora hóspede da Papuda/Papudinha (vá lá!). 

Xandão é mãe e diplomata. Não se comporta como um caudilho  orgulhoso e pomposo, mas como agente da Justiça, impessoal e frio. Cumpridor de seus deveres, é aquele tipo de mãe que bota o moleque de castigo sem piscar, quando o pestinha merece. 

Ou absolve, quando não encontra provas irrefutáveis para punir. Foi assim com o general da ativa Estevam Theóphilo, de secular família militar desde os tempos do Império e enfiado até o nariz na trama, sem no entanto deixar suas digitais. Uma hora estava festejando seu aniversário, outra viajando, outra usando celular que não era dele etc. Um álibi para cada passo do crime. Bolsonarista esperto, coisa rara, dirigiu seus atores por trás dos panos. Se desse certo, era um herói do golpe, se desse errado é o que vemos. 

Mas o coração de mãe do Xandão tem uma explicação, digamos, menos afetiva. Ele não poderia botar os milicos na Papuda agora. Só se e quando o Supremo Tribunal Militar cassar suas patentes. Aí viram civis e podem ir para a jaula. O Bozo junto. Assim rezam o Código Penal Militar e o Estatuto dos Militares. 

Com a bola, o STM. No ano que vem. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado, neto e sobrinho de generais falecidos, mas legalistas por toda a vida. Lembro que meu tio não era brizolista nem janguista, mas em 1962, comandante do Colégio Militar de Porto Alegre, com a cidade conflagrada, bombardeio aéreo já autorizado pelo comando da Aeronáutica, os caças prontos e armados para decolar da base aérea de Canoas, escolheu a Legalidade em vez do morticínio. Mandou os alunos para casa, fechou o Colégio, perfilou a tropa e a manteve neutra, sob ordem de silêncio, dentro do quartel da Redenção. Em 1964, já estava reformado e pediu demissão. Outra dose, não. 

27/11/2025

     

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