A direita brasileira estava moribunda depois da aproximação entre Lula e Trump, quando de repente um governador obscuro de um Estado decadente descobre que a melhor maneira de ressuscitar a moribunda era fazer uma matança.
Acertou na cabecinha — como dizia seu antecessor, de quem poucos ainda se lembram.
Confesso que estou entre os que nem lembram mais o nome da figura e preciso recorrer ao Google para trazê-lo ao palco dos acontecimentos. Wilson Witzel era o nome dele. Ficou 2 anos e 4 meses no cargo. Sua única façanha foi a morte de um jovem deficiente mental que sequestrara um ônibus e foi alvo de um sniper. Disto me lembro sem precisar buscar no tal Google.
Já Cláudio Castro, católico praticante, papa hóstia e cantor de igreja, ostenta no peito 132 mortos nesta semana, fora outras centenas, talvez milhares, desde 28/8/2020, quando assumiu interinamente a cadeira de Witzel, elegendo-se em 2022 com quase 60% dos votos. No ano que vem ele quer ser senador da República em cima de uma pilha ainda maior de mortos.
(Sua carreira necropolítica pode ter um fim nos próximos dias, se for condenado pelo TSE em julgamento marcado para começar terça-feira, por corrupção na eleição de 2022 ao governo do Rio de Janeiro. Há, no entanto, juízes dispostos a sentar em cima do processo e jogar seu início e seu desfecho para as calendas gregas.)
O povo quer sangue. Pesquisas dão conta de que a aprovação da chacina é altíssima. Não importa que quase 30% dos mortos não tivesse passagem pela polícia. Cansado há décadas da incompetência ou cumplicidade do Estado, o povo se satisfaz com matanças. Castro fatura em cima da sua própria incapacidade de enfrentar o crime organizado com a lei e a inteligência.
Matanças no Rio de Janeiro viraram a norma desde que se formaram as milícias nos anos 40/50, ou mesmo antes. Não tinham esse nome. Eram chamados esquadrões da morte, polícia mineira, escuderias disso e daquilo. Seu método de trabalho não era combater o crime, mas achacar o criminoso, que se não pagasse, morria. Não era acabar com o crime, mas fazer dele uma fonte de renda. Formou-se então a aliança do crime, que os deixou ricos e fortes.
Seus sucessores são as milícias formadas por ex-policiais expulsos das corporações e/ou aliciados. É sempre bom ter amigos do lado inimigo. Por exemplo, todo o comando do CV presente nos complexos da Penha e do Alemão fugiu atro horas antes da chegada da polícia. Os mortos são os “soldados” que ficaram para defender as posições.
Agora, os governadores de direita falam em formar a aliança da paz, uma ironia macabra sem nenhum pudor — a paz nadando em sangue.
Se matanças fossem solução, o Rio de Janeiro e o Brasil todo seriam exemplos de santidade para o mundo inteiro.
O Comando Vermelho ameaça publicar a lista das autoridades que enriquecem junto com eles — e as provas dos subornos. Mas dá uma colher de chá: se não fizerem mais matanças, guardam a lista embaixo do colchão. Se não…
Nelson Merlin é jornalista aposentado e cansado de guerra.
1º/11/2025
