Por um triz

Surge mais uma prova, esta hilária, de que a incompetência dos golpistas nos salvou de um golpe de estado em 2022. 

Pois não é que os caras da Abin Paralela, operada pelo Bozo, Ramagem, Heleno & Filhos, foram atrás do Alexandre de Moraes errado? Foram bisbilhotar o telefone dele para monitorar seus passos e só após três tentativas de localização descobriram que quem procuravam não era o Xandão, mas o gerente de uma loja com o mesmo nome dele. 

Entre confessar a incompetência e lamentar que não tenha dado certo, a postura dos golpistas e seus adevogados (assim mesmo, com “e”) tem sido a de lamentar. Foi isso que vimos na oitiva da defesa do núcleo principal do golpe. Lá estava o chefe da cambada tocando de novo o disco quebrado dos golpistas — que não estavam tramando nada, imagine!, apenas estudavam hipóteses de estado de sítio ou de defesa para impedir a posse dos eleitos. 

Com isso, entregaram sorridentes a rapadura inteira para o Gonet e o verdadeiro Xandão. 

A cara de pau do argumento esconde a covardia que manifestam no presente e o medo do futuro ao verem cada vez mais perto os portões da Papuda. 

Há tempos não se via um réu, ex-capitão do Exército e ex-presidente da República, puxar tanto o saco do juiz que está no cangote dele, a ponto de convidá-lo a ser seu vice em 2026. 

Foi para descontrair o ambiente? Não. Foi para puxar o saco e avacalhar com o processo penal, pois crimes não cometeram nenhum — no dizer deles e de seus adevogados

É claro que eles não iam admitir os crimes de que são acusados. Iam dizer alguma bobagem para tirar o corpo da reta. Notem que fui educado escrevendo “o corpo”. Mas eles não foram educados comigo e toda a torcida do Corinthians ao se fazerem de tontos. Fizeram do ridículo um argumento de defesa, assim como fizeram da mentira uma política de governo durante os quatro anos de sandices no Planalto Central. 

Gonet e Xandão só tiveram que esfregar as mãos. Não há mais o que fazer nesse processo senão emitir a sentença. As provas já foram todas entregues e confirmadas pelos réus. 

Isto posto, volto ao início. 

A incompetência nos salvou do golpe, mas ela não é uma garantia contra tentativas futuras. De repente, podem aparecer comandos de gatos pretos que levem à frente com sucesso a empreitada contra os “comunas da esquerda” e podemos ter problemas institucionais graves. 

A extrema direita domina os quartéis, a PM, os governos de vários estados importantes, o Congresso  Nacional, assembleias legislativas e câmaras municipais, o próprio Judiciário — que está longe de ser um bastião da democracia nas camadas abaixo do STF. 

Ou as esquerdas e os independentes — que não são muitos — se unem contra as forças do atraso, ou vamos ter de novo um governo de extrema direita em 2027-2030, com consequências ainda mais funestas que o de 2019-2022. 

E não basta só unir. É preciso ter uma agenda nacional progressista articulada em torno de ideias e projetos de avanço social, econômico,  urbano, ambiental e também institucional, com o fim de aberrações como a das emendas parlamentares, os altos salários do Judiciário e do Legislativo, a permissão para que pastores evangélicos se candidatem em eleições que deveriam ser livres, e não a serviço da mistureba de religião fundamentalista e alienante com política do mais baixo clero. 

Padres para se candidatarem têm que largar a batina. Por que pastores evangélicos podem sair por aí pedindo votos para acabar com a democracia, a liberdade e nossas conquistas sociais? 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e ainda esperançoso de que alguma ação aconteça para abortar mais uma ditadura cívico-militar-religiosa  inaceitável e ridícula no século XXI. 

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