Privilégios

Não sei por que o Haddad está se enrolando tanto para fazer o ajuste previsto no arcabouço fiscal aprovado no ano passado, quando as despesas crescessem mais do que as receitas. 

Bastava mandar para o Congresso o imposto sobre grandes fortunas (previsto na Constituição de 88!) e outro limpando a agenda de ao menos 60% (R$ 310 bi, arredondados) dos benefícios fiscais (ao todo R$ 520 bi este ano, também arredondando) que não trazem benefício algum para o país, mas somente para os bolsos dos privilegiados. E que o Congresso, que sempre foi contra o fim desses privilégios, se virasse para descascar o abacaxi. 

Agora está sob o fogo cruzado dos especuladores da Faria Lima e da mídia adepta dos milionários, porque o pacote de cortes nas despesas seria fraco (a FL queria um míssil nuclear, e veio um plano gradual) e pela primeira vez na história os beneficiários da reforma do IR não são os ricos. (Isso é que doeu nos calos!)

O viés ideológico das críticas é tão claro quanto o golpe tentado pelos fardados e seu chefe supremo em 2022. Como o campo de batalha agora é outro, o golpe da Faria Lima e dos milionários é desferido contra as políticas econômicas e sociais do governo Lula. 

Para eles, o que tem que cortar são os aumentos do salário mínimo acima da inflação, os orçamentos da Saúde, do SUS e da Educação (eles não precisam disso, têm planos de saúde milionários para suas famílias e escolas particulares para os filhos), a Previdência Social (também não precisam dela),  etc, etc. 

São descaradamente supremacistas, classistas, discriminatórios e racistas, dado o altíssimo percentual de negros, indígenas e pobres de todas as raças beneficiários do arcabouço social da Constituição de 88. 

Essa oligarquia retrógrada e pantagruélica quer um novo estelionato eleitoral da direita em 2026 com o Turista de Freitas na cabeça de chapa. Dessa vez para privatizar Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Amazônia, Serrado e o que mais de riquezas houver pela frente.      

Não está só na FL paulistana, mas em todos os centros financeiros do país. Esse povo oligarca não quer os estudantes pobres financiando no Fies os seus estudos. Quer o Fies para eles, assim como já fizeram com o Prouni, que beneficia muito mais os donos de faculdades do que os estudantes universitários. 

Não quer a farmácia popular, porque é gasto e não benefício indispensável num país de aguda desigualdade social como o nosso. 

Para eles, a queda do desemprego, ao nível nunca visto de 6,1%, e o crescimento do PIB, que será de mais de 3% este ano, são uma desgraça que vai fazer a inflação disparar e o juro subir, e nessas condições o empresariado não vai investir. 

Como se a FL não gostasse de juro alto para rechear ainda mais suas burras. 

E, ora, o PIB cresceu porque o empresariado voltou a investir nos seus negócios! Apesar dos juros altos e do maior custo dos insumos importados devido à especulação deles com o dólar. 

Mas qualquer argumento distorcido ou falso vale para manipular a classe média, os pobres de direita e eleger o bolsonarismo outra vez. 

Não quero dizer que o presidente  Lula esteja isento de qualquer culpa. Está inerte, passivo, muito distante do protagonismo que tinha nos dois primeiros mandatos. Parece ter terceirizado o governo aos ministérios e à composição política com a direita parlamentar. Precisa levar uma chacoalhada, ou vai novamente abrir caminho para a extrema direita passar. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e apreensivo.

1º/12/2024

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