Se no Sul do continente surgiu nesta eleição a figura torta e patética do pobre de direita, no Norte surge radiante a figura não menos torta e patética do imigrante de direita.
Esculhambado, chutado e escorraçado pelo diabo loiro, mesmo assim os imigrantes e descendentes votaram em massa no demônio. E eu, estupefato, recomendo às inteligências responsáveis pelo futuro da grande nação do Norte a mobilização, não só de sociólogos e cientistas políticos, mas de psiquiatras eminentes que expliquem o fenômeno aos vis mortais.
Minhas explicações são falhas, sei. Mas não tenho dúvidas que o racismo estrutural e a misoginia ancestral tiveram efeitos catastróficos nesta eleição. Uma mulher negra, de origem asiática e jamaicana, inteligente e arrojada, não passa bem pelas goelas de machos rastaqueras e ignorantes nem pelas orelhas de fêmeas submissas e enlouquecidas pelo discurso de ódio do patrão político de seus maridos.
Me curvo à vontade da maioria, mas não me curvo ao ideário fétido que sai dos esgotos mais profundos de uma sociedade que, na sua origem, massacrou povos escravizadas e indígenas usurpados de suas terras ancestrais.
A dita América tem muito a pagar por seus crimes passados, presentes e futuros. Merece o presidente que acabou de eleger. E por falar em crimes, está marcada para o fim deste mês a sentença do julgamento que condenou o novo chefe por propina e corrupção para calar a atriz pornô Stormy Daniels.
A sentença deve enviá-lo à cadeia nas vésperas da posse. Aí, digo, a tragédia de hoje vai virar a comédia de amanhã.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e estupefato.
6/11/2024