Demência

O ataque do procurador-geral da Venezuela aos presidentes Lula e Gabriel Boric, do Chile, mostra um traço novo nas ditaduras latino-americanas. O da demência, que se agrava quanto mais tempo se agarram ao poder. 

A ditadura venezuelana está no ar há longos 25 anos, sob a capa de uma democracia de fancaria, com todas as instituições de poder dominadas, após terem sido estupradas, pelo chavismo. 

Não sei quem rotulou o chavismo como um movimento de esquerda. Nunca foi. Suponho que o motivo tenha sido sua aversão aos EUA, mas isso não quer dizer nada. 

Uma penca de países árabes, islâmicos e persa tem aversão aos EUA, mas nenhum é de esquerda, muito pelo contrário. Chaves teve o apoio dos irmãos Castro e continua tendo sob o mandato de Díaz-Canel, mas por trás dos panos está o interesse de Cuba em trocar gasolina por charutos. A Venezuela vende sua gasolina para Cuba por 19 centavos o litro. Cuba agradece pagando com charutos que valem uma fortuna. A Venezuela faz isso para afrontar os EUA, e não por ser esquerdista. Além de tudo, a aversão é seletiva: os EUA compram quase todo o petróleo que a Venezuela produz e vende para eles com alegria. 

Chávez se intitulava socialista sem saber do que se tratava. Os nazistas também se intitulavam socialistas. E mandavam os socialistas e os comunistas para serem mortos nos campos de concentração, junto com judeus, ciganos, deficientes físicos, homossexuais e outras minorias que consideravam sub-raças. 

Parênteses. Nunca entendi por que a ONU só se comoveu com a matança de judeus. Deveria ter dado um Estado para cada grupo social ou étnico que os nazistas exterminaram em seus domínios. Fecha parênteses. 

O chavismo de esquerda é um desses desvios históricos que permanecem um mistério. Trata-se de um regime militar de extrema direita, liderado por um milico ignorante e de burrice atroz. Morreu comido pelo câncer gritando que não queria morrer. Poderia ter partido sem fazer escândalo. Maduro ocupa seu lugar espalhando milícias por toda parte para matar, literalmente, os civis descontentes que o criticarem. Chávez, que eu me lembre, não chegou a tanto. 

Voltando a Lula, eis aí uma boa oportunidade de exorcizar seu amor maléfico por Maduro, patético e totalmente desnecessário para um chefe de Estado que se preze. Maduro zomba dele e só ele não vê. Não sei o que faz a Janja diante disto, mas a Marisa — que era inteligente — não deixaria o marido pisar numa casca de banana dessas e passar por um vexame desses. 

Comparado a um ET, acusado de ser agente da CIA, de ter sido abduzido na cadeia e de nem mais parecer fisicamente com o Lula uma vez conhecido, o presidente brasileiro só tem agora um caminho: romper com Maduro de viva-voz e sem subterfúgios, sob pena de avacalhar-se no eleitorado classe média, do qual depende seu futuro político e o da democracia em 2026. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e sem mais delongas. 

16/10/2024

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