Nós, os 4%. Mas podem chamar de 49%

O Brasil é um país dividido ao meio.

Dizem que somos 4%. Eu, pessoalmente, até gosto disso. É bom o gostinho de ser a ínfima minoria que não concorda com a banda dos contentes. É bom ser da turma de Bertold Brecht, de Marlene Dietrich – e não dos 90 e sei lá quantos por cento que aplaudiam Hitler. É bom ser da turma de Sakharov, de Soljenitsin, de Pasternak, e não dos 90 e sei quantos por cento que aplaudiam o stalinismo.

Mas dizer que somos 4% é falácia, é mentira. Somos em torno de 50%. Às vezes somos 54%, às vezes 48%.

O Brasil é um país dividido ao meio. Exatamente como os Estados Unidos, como o Chile. Um pouco como a França, a Itália, a Espanha, Portugal.

Somos um país dividido ao meio pelo menos desde 1994. Naquele ano, Fernando Henrique venceu Lula no primeiro turno com 54,3% dos votos válidos. Em 1998, Fernando Henrique venceu Lula também no primeiro turno com 53,1% – de novo, pouco mais que a metade. Pertinho da metade.

Em 2002, Lula passou para o segundo turno com 46,4% dos votos. Depois de quatro anos de muita bolsa para os pobres, os menos informados, passou para o segundo turno com 48% dos votos.

Depois de oito anos em que, em vez de presidente da República, Lula foi orador de comícios, fez um discurso por dia (cacilda: são cerca de 2.900 discursos!), conquistou o fantástico, incrível apoio de 80% da população, e dedicou todo santo dia de seus magníficos 80% de aprovação, ao longo dos dois últimos anos, a propagandear sua candidata poste, sua candidata poste tem metade das intenções de voto.

Exatamente a metade.

Nesta véspera do dia da eleição, não dá para saber se haverá segundo turno ou não. Dilma pode levar já, ou pode não levar já. O que os institutos de pesquisa mostram é que ela tem em torno de 50% das intenções de voto.

Exatamente a metade.

        ***

Se não me engano, a expressão “os 4%” foi cunhada pelos tais “blogueiros progressistas”. Ou petralhas – dá na mesma. Acham que com essa expressão estão nos ridicularizando, mostrando nossa pequenez. Como se pudesse haver pequenez em quem vai contra a maré dos populistas, dos ditadores, dos absolutistas. Como se pudesse haver pequenez em Brecht, Dietrich, Sakharov, Soljenitsin, Pasternak, Hélio Bicudo, dom Paulo Evaristo Arns.

Estão errados, os “blogueiros progressistas”. Não somos 4%. Somos em torno de 50%. Depois de oito anos de todo tipo de desfaçatez, de roubalheira, de falta de vergonha, de mensalão, de Bolsa Família, de Bolsa BNDES, de agressão às leis eleitorais, à Justiça, à independência do Legislativo, de cooptação à base de grana preta de sindicatos e entidades de estudantes, de aparelhamento do Estado, de privatização do patrimônio público pelos companheiros e suas famílias extensas, de 2.900 discursos do pai da pátria que acha que nada existiu, de Cabral até hoje, a não ser ele mesmo, e que conquistou incríveis, absurdos, fantásticos 80% de aprovação, somos em torno de 50%.

Amanhã poderemos provar que somos 51% – maravilha. Ou então que somos 49% – e que Deus se apiade do Brasil.

 2 de outubro de 2010

23 Comentários para “Nós, os 4%. Mas podem chamar de 49%”

  1. Você é a própria Dietrich, com traços de Regina Duarte. A economia cresceu por sorte? A pobreza diminuiu por sorte? Ou vc é daqueles plutocratas que defendem abertamente a manutenção da péssima distribuição de renda? O Governo FHC, com Caymans e afins, foi perfeito mesmo. Para cada discurso do Lula, uma viagem do FHC. Talvez por isso o Lula tenha conseguido a (suposta, como afirma) mágica da aprovação: ele ficou aqui perto do povo, perto da gente.

  2. Ai, ai. Confesso que tenho um pouco de canseira de vocês, petralhas. Mas vamos lá.
    A economia brasileira não cresceu tanto assim – cresceu menos que China, Índia, mas, sobretudo, menos que em boa parte dos países da América Latina.
    A pobreza não diminuiu por sorte. Diminuiu seguindo movimento de uma década e meia; com o fim da inflação, a partir do governo Itamar (que o PT não apoiou), com o Plano Real (contra o qual o PT berrou tudo o que podia), no governo Fernando Henrique, a pobreza diminuiu. A inflação favorece os ricos; o fim da inflação – feita pelo plano que o PT criticou, bombardeou – foi um elemento fundamental na diminuição da pobreza.
    Não, petralha. Não defendo a má distribuição de renda.
    Quanto a Cayman, petralha, você acredita mesmo nessa história da carochinha de que os tucanos botaram grana em Cayman? Então você acredita em Papai Noel, em saci pererê, e não sei porque estou tentando raciocinar com você.
    Olha, petralha, é o seguinte: vá mamar em alguma teta do governo, vá. Enquanto é tempo.
    Sérgio

  3. Thiago, o Lulla viajou bem mais q FHC. A economia estava bem consolidada e era só não fazer muita caca. Agora eu juro q queria entender: vcs realmente não percebem q além de populista os programas assistenciais (viciantes) do governo vão levar o país a uma dívida interna memorável? Não cortando gastos, não acabando com mamatas e dando $$$ assim a rodo, pra quem vc acha q vai sobrar a conta???

  4. Ola, Sergio, excelente texto, como a maioria aqui do blog, do qual sou frequentador assíduo.

    A maior realização política recente no Brasil, realização que realmente mudou o país pra melhor, que daqui a cem anos será lembrada como fundamental, foi o plano real, o fim da inflação, a estabilidade econômica que conseguimos nos governos tucanos.
    Apersar de toda falácia do presidente, de toda a conversa fiada do “nunca antes”, que diabos esse governo, em seus oito anos, fez que se compare, mesmo que vagamente, com o plano real? O Bolsa Família? A piada do PAC?
    A única coisa que o governo petista reamente revolucionou foi com quantidade e gravidade dos escândalos de corrupção e com a leniência com que foram tratados.

    Abraço

  5. Você emprestava carros para os torturadores também? Você senpre segue a linha ideológica da empresa na qual trabalha. Seus paralogismos me assustam e essas pessoas que concordam cegamente com você também. Isso aqui não é um espaço para a discussão, já que no texto mesmo você já tomou a postura da minoria sábia e dona de uma verdade que não se pode nem, democraticamente, discutir. Vocês sabiam ser minoria quando estavam no poder. Sem ele, vocês são essa minoria desesperada e sem saber o que fazer. Moro na Vila Cruzeiro, favela famosa do Rio, e daqui vejo a mudança acontecer, deve ser difícil ver das janelas brumosas do Alphaville. O conhecimento está chegando às periferias, vocês, agora, são uma espécie em extinção. Tchau!

  6. Ih, Thiago. Moramos perto. Moro perto, muito perto, na N. S. da Penha, e não vejo mudança nenhuma acontecer. Continuo vendo traficantes de moto armados até os dentes, camelôs vendendo cacarecos chineses, ruas sujas, a Oi não querendo consertar meu telefone porque moro em área de risco (isto piorou!!!), várias kombis fazendo transporte ilegal e motos, idem – inclusive desconhecendo noções básicas de mão e contramão. Você mora na Vila Cruzeiro? Beleza! Deveria agradecer ao FHC por ter internet – porque o Lula era contra a privatização da Telerj (ARGH!!!) com a qual talvez você não tivesse sequer telefone em casa. É isso. Quem sabe não nos encontraremos por aqui. Se é que vc mora mesmo na Vila Cruzeiro…

  7. Diz o Thiago que “o conhecimento está chegando às periferias”. Claro que deve ser verdade.Falta agora chegar à casa dele.

  8. Felipe, querido. Eu até poderia discutir com você, mas você , desculpe, não entende nada de política.

  9. Na realidade a Dilma ganah eleição nenhuma, sem o Lula ela jamais ganharia nada. Esse governo tenta ser o mais populista e conseguem inventando dados falsos sobre PAC, sobre saneamento, luz. Só comparar os dados com o do IBGE e vamos ver que os dados apresentados pela Dilma são contraditórios.
    Outra coisa é dizer que pagou a dívida externa enquanto a realidade é outra, só olhar lá no site do banco central e ve quanto está nossa dívida externa – http://bit.ly/bAONUo

  10. gosto qdo pessoas expressam democraticamente seus pensamentos, ideais, preferências, etc.
    gosto da coerência qdo leio sobre posturas políticas mesmo qdo não sou do partido.
    porém, percebo a agressividade dos defensores de lula & cia qdo alguém discorda do pensamento deles.
    é incrível a falta de respeito a liberdade de pensamento e expressão.
    pena, querem aos gritos nos calar.

  11. Ué… não entendi nada….
    Nós não éramos só 4% ?
    Queria só ver a cara de um certo barbudo quando terminaram as apurações.

  12. Gostei do texto e das idéias!

    É realmente um fato interessante que as sociedades complexas parecem ter essa tendência de se dividir em duas grandes visões de mundo. Há sempre 1/3 dos americanos que sempre vota de um lado e 1/3 que sempre vota de outro. E há 1/3 que é mais independente, mas que ainda assim se divide, ora pendendo para um e ora para outro.

    E aqui no Brasil também. Embora não se possa dizer que 1/3 do Brasil é PSDB e 1/3 é PT, é sim verdade que há 1/3 fortemente petista e 1/3 fortemente anti-petista. O restante também se divide em posições mais moderadas simpáticas ou antipáticas ao petismo.

    Eles querem nos criminalizar e nos destruir por não termos “aderido”. Eles podem até tentar esmagar metade da sociedade, mas não vamos conseguir.

    “We shall never surrender!”

  13. aiaiaiai……
    esse povo que ñ qer ver oqe mudou dizendo qe nao mududou nada falta de humildade aqele qee mora na periferia diz qe naun viu nada de mudança qe ainda continua mas talvez pouco sabe ele qe alguns governos psdb ou pmdb bloqueiam o investimento do governo federal qe seria o governo lula qerendo ivestir no municipio ou no estado seja muitas vezes oque esta avendo nesss lugares por isso naun vemos muitas mudança deveriamos ver pesquisar antes de dizer que o governo lula naun fez nada sendo qe mudou muita coisa pra muita gente so naun mudou para aqeles qe sao elite brasileira

  14. Que bela resposta, Tiago!

    Então é assim: você nem me conhece e já diz que eu não entendo nada de política.

    Baseado em quê você diz isso? Será que você mora mesmo na Vila Cruzeiro, rapaz? Ou está tentando se fazer de vítima? Fugiu da raia.

  15. E o Anderson? No dia em que ele aprender a escrever em algum idioma conhecido talvez se faça entender.

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