Um dia para não comemorar

Toda discriminação é odiosa. Seja motivada pela cor da pele, pela origem dos povos, pelo credo, opção sexual, condição social ou matiz política.

Mas a luta segmentada, sectarizada contra a discriminação privilegia apenas um determinado grupo e, portanto, acaba por perpetuá-la.

É isso que ocorre nos dias dedicados à consciência negra, ao índio ou ao orgulho gay.

Beira a chacota achar que um feriado a mais jogará luzes sobre a discriminação ou ajudará na luta contra ela.

No máximo, fornece palanque festivo com a falsa premissa do politicamente correto. Em ano pré-eleitoral, então, é um prato cheio.

Motivo de sobra para que o presidente Lula assine o decreto que nacionaliza o feriado do dia 20 de novembro.

Ainda assim, poucos serão os pretos, pardos, brancos ou amarelos a se rebelarem contra a utilização inescrupulosa do ideário da igualdade que, convenhamos, passa longe da institucionalização do Dia Nacional da Consciência Negra.

Negros não são melhores ou piores do que amarelos. Asiáticos e negros não são melhores ou piores do que índios, que, por sua vez, não são melhores ou piores do que os albinos, escondidos do sol e tratados como deformações da raça.

Mulçumanos, católicos, protestantes, evangélicos, judeus não são uns melhores ou piores do que os outros. Árabes, coreanos, europeus, latinos ou norte-americanos. Ninguém é melhor ou pior.

Particularizar a batalha contra a discriminação é estimular antagonismos, supremacias, é avalizar o racismo. No Brasil isso chega às raias do absurdo.

Um país mulato, onde pretos 100% pretos e brancos 100% brancos são pouquíssimos, deveria comemorar sua diversidade e, com orgulho, exibi-la ao mundo.

Lula faz exatamente o oposto: confere privilégios, prega regalias. Posa como libertador e defensor da igualdade. E age perdoando crimes dos que ele considera mais iguais. Discrimina sem dó.

Com os negros, pardos, morenos e mulatos não é diferente.

Alguns ativistas defendem com unhas e dentes os regalos que o Governo lhes confere e, é claro, aplaudem o presidente. Outros, já organizados, mas menos barulhentos, não querem ver a cor acima de seus méritos.

Sabem que, se já sofriam preconceito e discriminação, a dose poderá ser muito mais severa no futuro.

Ao querer institucionalizar o racismo, o país perde o brilho invejável de sua cultura miscigenada e o melhor de sua Constituição – “todos são iguais, sem distinção de qualquer natureza” – abrindo um caminho conflituoso e incerto. Só de imaginar tenho arrepios.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência ‘Lu Fernandes Comunicação e Imprensa’. O artigo acima foi escrito para o Blog do Noblat.

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