A PEC do reitor da UERJ estava em caixa alta

Nos velhos e bons tempos, quando se usava essa expressão, e não se supunha a existência da informática e do Google, os jornais eram escritos para entendimento “do engenheiro ao lixeiro (hoje coletor)”. Não usavam linguagem técnica como o economês ou o juridiquês, sem “traduzi-las” para o leitor. Tão pouco o deixavam sucumbir à hermética das siglas. Isto, se bem lembro, valia também para o noticiário da tevê.

Hoje, de repente o apresentador da notícia emite um estalo: PEC. E às vezes continua, PEC, PEC como se alguma coisa estivesse se quebrando. Os espectadores mais familiarizados sabem que ele está falando de Proposta de Emenda Constitucional… PEC. Mas e os menos? Ficam na mão, porque a tradução não é feita.

Supõe-se que o espectador assimile bem o cotidiano dos PGR, STF, TCU, AGU, OMS. Mas (aconteceu recentemente) UERJ? Qualquer carioca sabe que é Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Mas e o resto do País? Não fizeram a caridade de explicar.

É verdade que, para a televisão, cada segundo vale ouro e decodificar cada sigla sairia muito caro. Também, no limite, o espectador poderia assistir ao noticiário com caneta e papel na mão, anotar a sigla – e depois ir ao Google. Mas gostaria de saber como as emissoras farão se surgir notícia obrigatória sobre o pouco conhecido do grande público Condephaat, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.

Há poucos dias, uma comentarista da GloboNews disse que a declaração por escrito de um cidadão tinha uma palavra em caixa alta. A coluna de Mônica Bérgamo também usou essa forma, recentemente. Caixa alta, em vez de letra maiúscula, é jargão usado por jornalistas em conversas do cotidiano. O espectador assimilará mais essa?

E, afinal, que caixa é essa? Até o final da década de 1960, a impressão dos jornais era feita nos linotipos, grandes máquinas nas quais os linotipistas produziam letras de chumbo em alto relevo, que formariam páginas de texto. Foram substituídas pelas modernas offsets.

Em tempos remotos, a tipografia era ainda mais trabalhosa – um trabalho manual. As letras ficavam em uma caixa. O tipógrafo pegava letra por letra e ia montando as palavras que formariam cada página. Na parte baixa da caixa, ficavam as letras minúsculas. Na parte alta, as maiúsculas. As palavras feitas com letras da caixa alta eram chamadas… caixa alta.

Junho de 2020

Um comentário para “A PEC do reitor da UERJ estava em caixa alta”

  1. Insuportável o festival de siglas. Nenhum leitor é adivinho. E agora, não chove mais, não cai raios. Nem irá nevar na Serra Gaúcha. Simplesmente, o imbecil escreverá “registros de granizo, registros de neve”. Nada mais acontece, há “registros”. Há “registros” de chuva no litoral, “registros” de raios no Vale do Paraíba, “registros” de malária em Rondônia. Onde já se viu uma linguagem dessa? Quando eu era menino lá no Pontal do Paranapanema, registro era de água ou cartorial. Volte, Eduardo Martins!

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