Onde está o Queiroz?

Finalmente não vamos mais ter de ouvir essa pergunta.

Fabrício Queiroz foi preso nesta quinta-feira num sítio, ora vejam, em Atibaia! Que pertence a, ora vejam, Frederick Wassef, que vem a ser advogado, ora vejam, do senador Flávio Bolsonaro e do presidente Bolsonaro!

Oh! Quanta coincidência!

Como esse procurado pela Justiça foi parar lá? Deve estar se perguntando o advogado, que disse para a Andréia Sadi, em setembro de 2019, que não sabia do paradeiro de Fabrício Queiroz: “Não sou advogado dele”.

Pois o tal Queiroz, investigado como o coordenador do esquema das rachadinhas de Flávio, passou um ano bem escondidinho nesse sítio, segundo o caseiro. Mas como é de praxe caseiros e porteiros ficarem confusos na hora de passar informações, corrigiu-se depois em entrevista à emissora porta-voz do governo, digo, à CNN, afirmando que Queiroz estava lá fazia uns quatro dias. Errou por 361 dias só. Uma bobaginha.

Esperando ainda pelas explicações dos envolvidos, que provavelmente irão dizer que o sítio era de um amigo… Péra, acho que estou misturando estação… Não deveremos ter muita novidade por enquanto. O que sabemos é que o preso foi levado para a cadeia de Benfica (piada pronta) no Rio para uma triagem, antes de passar temporada em Bangu 8.

A única manifestação até o momento foi a de Flávio Bolsonaro, via Twitter: “Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

O fato é que Lula, quer dizer, Queiroz, foi encontrado num sítio em Atibaia e isso é, no mínimo, intrigante.

Fui procurar no Google alguma dica que pudesse esclarecer por que essa cidade foi escolhida para ser palco da queda de um presidente, e que, se tudo correr dentro dos conformes, poderá ser a de mais um, embora Jair Bolsonaro não tenha tido participação direta no esquema das rachadinhas. Poderá pesar contra ele uma acusação de favorecimento ou até obstrução de justiça, segundo alguns criminalistas, caso seja provado que escondia a verdade. (E não me venham dizer, vocês passadores de pano, que Bolsonaro não sabia de nada. Só pra ilustrar, esse advogado, apelidado de Anjo pela família, é tão chegado que até participou da cerimônia de posse do novo ministro Fábio Faria nesta quarta-feira. Acham que ele nunca soprou nozovido do Jair que o homem tava lá quietinho?)

Voltando à pesquisa, descobri que Atibaia fica a pouco menos de 70 quilômetros de São Paulo, tem perto de 145 mil habitantes, belos hotéis, restaurantes, clima agradável, montanhas e águas represadas, portanto, nada que justifique ser um refúgio de bandidos.

No livro “Primeiras Noções de Tupi”, o tupinólogo (nem sabia que existia essa palavra. Será que tem também Terenólogo ou Guajajarólogo?) Plínio Ayrosa, define Atibaia (Ty-Baio) como “rio manso de águas tranquilas, de água agradável ao paladar”.

Mais tarde, porém, numa publicação do jornal O Estado de S. Paulo, o mesmo Plínio Ayrosa concluiu que Tibaia significa água salobra acre, ruim, poluída.

Como o autor faleceu em 1961, essa mudança de conceito só pode ter sido por uma visão futurística da cidade. Ele adivinhou que bandidos poluiriam suas águas tranquilas e que elas se tornariam pouco agradáveis a alguns paladares.

Primeiro foi o da Silva a beber dessa bebida amarga, e agora os Bolsonaros.

Destino?

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 19/6/2020. 

 

 

 

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *