Não há o que comemorar nos resultados do Pisa. Eles mostram que a Educação brasileira está estacionada e não apresenta avanços significativos no sistema internacional de avaliação do ensino da OCDE, realizado a cada três anos em estudantes de 15 anos de idade. A última edição foi aplicada em 2018 e divulgada nesta semana. Se por um lado a pontuação dos alunos aumentou levemente na comparação a 2015, por outro o Brasil desceu mais alguns degraus no ranking mundial em matemática e ciências, mantendo-se estável em leitura.
Os números desnudam a tragédia da educação brasileira: 68% dos nossos alunos não alcançaram o nível mínimo da OCDE em matemática. Ou seja, não conseguem executar procedimento rotineiros. Em literatura 50% dos alunos têm problemas para interpretar informações e pouquíssimos sabem distinguir um fato de uma opinião.
O Brasil registrou importantes avanços nas primeiras edições do Pisa e, a partir de 2009, ficou estagnado ou obteve avanços insignificantes do ponto de vista estatístico. Isso indica que depois das ações implementados na gestão de Paulo Renato Souza no Ministério no Ministério da Educação – quando houve a universalização do ensino fundamental e foi criado um sistema nacional de avaliação -, poucas transformações foram relevantes na área educacional.
A interrupção de políticas que deveriam ser de Estado cobraram seu preço. A falta de foco na aprendizagem do aluno e na formação inicial e continuada dos professores também contribuíram para a paralisia.
De Paulo Renato para os dias atuais o que houve de significativo foram a reforma do ensino médio e a definição da Base Nacional Comum Curricular, no governo Temer. Essas duas medidas mal saíram do papel e seu impacto ainda não foi detectado pelo Pisa, o que só deve ocorrer em um horizonte mais distante. Na Educação, planta-se hoje para colher a médio prazo.
A estagnação dos últimos anos se deu num momento crítico onde vivemos o advento da Quarta Revolução Industrial, na qual o conhecimento é o grande divisor de águas na batalha tecnológica. A perda de dinamismo na educação impacta na competitividade e produtividade brasileiras dificultando a inserção do país na economia mundial.
Ela pode nos condenar a, mais uma vez, perder o bonde da história e não ser um personagem importante na corrida tecnológica. Nossos jovens arcarão com o fardo pesado dos anos perdidos. Ficarão à margem do novo mercado de trabalho e da própria sociedade global uma vez que não receberão uma educação capaz de formá-los como cidadãos plenos.
Está em jogo o futuro da nossa juventude e do Brasil. Há de se ter sentido de urgência. É imperioso acelerar o passo, avançar com mais consistência para alcançar o patamar dos países da OCDE. Não daremos o salto necessário se não for estabelecido um pacto nacional que articule os entes federativos em regime de colaboração.
O papel de liderança desse processo cabe institucionalmente ao Ministério da Educação. É dele a responsabilidade de unir o país e os atores do setor em torno de um mesmo propósito. E não será possível desempenhar o que dele o momento exige priorizando uma agenda ideológica, elegendo professores como inimigos da Educação, estigmatizando instituições de ensino.
É urgente que o ministro Abraham Weintraub dispa-se da armadura de cruzado moralista para focar no que é relevante e vital para o país.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 4/12/2019.