Batendo um papinho

Diz o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, mais conhecido como Beato Salu, que a Europa está decadente, culturalmente vazia, dominada pelo marxismo cultural. Infelizmente, há anos que não viajo para aqueles lados, o espaço mais bonito, mais inteligente e mais culto do mundo.

Mas vejo muitos filmes, leio muitos livros, assisto aos canais europeus de televisão e desfruto das delícias das palestras e das entrevistas da BBC, da TV5 e da Deutsche Welle. E me deslumbro com os programas turísticos da RAI.

Por aqui, em matéria de programa contando a história e a cultura de uma região, tenho a felicidade de poder assistir na Globo News aos programas do Fernando Gabeira. Anteontem, ele nos levou à Paraíba, terra linda e com uma cultura e um artesanato que o Beato Salu talvez desconheça.

Creio que ajudaria muito o Brasil se os itamaratecas louvassem o nosso Nordeste, em vez de só cantar a beleza do Rio e o nova-iorquismo de São Paulo. Não se duvida que o Rio é das mais belas cidades do mundo. Mas violenta, insegura, mal tratada, suja, não sei se ainda seria a Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil. E São Paulo é daquelas cidades onde a maior qualidade do turista deve ser a paciência, para suportar o trânsito desvairado e a quantidade de gente nas ruas.

Já em Brasília, a capital, nestes tempos bicudos, temos a família que foi eleita para comandar o país. Dizem e fazem os maiores absurdos e nunca param para pensar antes de falar. São tão artificiais quanto a capital.

A cidade cresceu machista e custo a crer que vá mudar de estilo. Vejam agora mesmo o que fizeram com a senhora Brigitte Macron. Como um papalvo tuiteiro fez uma piadinha a seu respeito, o deselegante capitão Bolsonaro, em vez de calar o idiota, achou melhor responder com outra piadinha, das mais infelizes. Brigitte é mais velha que Macron? É. Ela é 25 anos mais velha que seu marido. Em compensação, o capitão é 27 anos mais velho que Michelle. Quer dizer: marido mais velho que a mulher, tudo bem. Mulher mais velha que o marido, impensável… Será que esse preconceito imbecil nunca vai desgrudar da alma da capital?

Brasília não é uma cidade como as que aprendemos a admirar ao longo dos tempos. Não é como aquele vestido que encomendamos no atelier de nossa costureira. Não, Brasília é prêt à porter, está no cabide, é só vestir, não nos inspira lembranças e quando alguma nos vem à mente, é melhor examinar a origem: se a origem é um nordestino, pode confiar. É gente como a gente: inteligência, alma, coração. Se não for, atenção, muita atenção: pode ser um manequim fingindo de gente…e aí todo cuidado é pouco…

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 30/8/2019. 

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